segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Três poemas de António Reis


1
Deu meia-noite
és livre
os guardas olham as montras

vêem o preço dos coturnos
e dos lenços

não mais se lembrarão de ti

só se o luar nascer
ou a manhã

ou se gritares


12
Há sempre um rapaz triste
em frente a um barco

a água é sempre azul
e sempre fresca

Em que país encontraria
um emprego e esquecimento

em que país encontraria
amor e compreensão

em que país
sentiriam
a sua vida e a sua morte

Não respondem as gaivotas
porque voam

Há sempre um rapaz triste
com lágrimas nos olhos
em frente a um barco


16
Chega a ter gosto
a chuva
vista dos cafés

caindo sobre as estátuas
e a nostalgia

chega a ser morna

com fumo e álcool
na garganta

Até os homens passarem
junto aos vidros

reais
molhados

sem emoções instruídas

pensando em remédios
e prestações

grisalhos
sem serem velhos

e falando sós

sem serem loucos

António Reis nasceu em 27 de agosto de 1927 em Valadares e morreu em Lisboa em 10 de setembro de 1991. Foi cineasta e poeta. Em poesia publicou Poemas quotidianos (1957) e Novos poemas quotidianos (1959).