terça-feira, 2 de novembro de 2010

Um poema de Auta de Souza



Caminho do Sertão

A meu irmão João Câncio

Tão longe a casa! Nem sequer alcanço
Vê-la através da mata. Nos caminhos
A sombra desce; e, sem achar descanso,
Vamos nós dois, meu pobre irmão, sozinhos!

É noite já. Como em feliz remanso,
Dormem as aves nos pequenos ninhos ...
Vamos mais devagar ... de manso e manso,
Para não assustar os passarinhos.

Brilham estrelas. Todo o céu parece
Rezar de joelhos a chorosa prece
Que a noite ensina ao desespero e à dor ...

Ao longe, a Lua vem dourando a treva ...
Turíbulo imenso para Deus eleva
O incenso agreste da jurema em flor.


Auta de Souza nasceu em Macaíba no dia 12 de setembro de 1876. Escreveu apenas um livro Horto, marcado por traços do simbolismo e do misticismo.  Morreu em 7 de fevereiro de 1901 em Natal.