quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sobre a edição especial do caderno-revista 7faces

Foto: Ivanaldo Fernandes

A sessão de lançamento da edição especial do Caderno-revista 7faces já tem data: ocorrerá pelo dia 14 de julho a partir das 19h no Auditório da centenária Biblioteca Municipal Ney Pontes Duarte (foto), situada à Praça Dorian Jorge Freire, em Mossoró, RN.

A edição é acadêmica e versa sobre a obra poética de José Saramago. Levou um ano para ser elaborada e traz textos de pesquisadores do Brasil, Argentina e Portugal.

Até lá, ao longo desses dias, o blog apresentará por aqui a programação oficial, que terá ainda a apresentação do primeiro número da revista Cruviana, um periódico que, da maneira como o Caderno-revista 7faces se dedica à edição de poesia, será dedica à publicação de contos.

Abaixo, disponibilizamos o convite preparado para marcar este acontecimento (clique sobre a imagem para ampliar):




segunda-feira, 20 de junho de 2011

Dois poemas de Óssip Mandelstam



A CONCHA

Talvez não precises de mim, 
Noite; da mundial voragem 
Tal como a concha sem pérolas, 
A tua margem fui lançado. 

Tu espumas as ondas com indiferença 
E cantas com teimosia, 
Mas terás apreço, amarás 
Da concha a inútil mentira. 

Ao seu lado deitarás na areia, 
Com sua casula te vestirás, 
Um indestrutível e grande sino 
Com ela na marola erguerás. 

E as paredes da frágil concha, 
Como a casa de vazio coração 
Encherás com os sussurros da espuma, 
Com a chuva, o vento e a bruma...


LENINGRADO

Regressei a minha cidade, conhecida até às lágrimas, 
Até as veias, as inflamadas glândulas das crianças. 

Tu regressaste para cá, então bebe de um gole 
O óleo de peixe dos faróis fluviais de Leningrado. 

Descubra logo o pequeno dia de dezembro, 
Onde a gema mistura-se ao funesto breu. 

Petersburgo! Eu ainda não quero morrer: 
Tu ainda tens de meus telefones os números. 

Petersburgo! Ainda tenho os endereços, 
Pelos quais acharei as vozes dos mortos. 

Vivo na escada de fora, e na têmpora 
Me golpeia a campainha brutalmente sacada. 

E por toda noite aguardo visitas queridas, 
Chacoalhando as correntes das portas.

Óssip Mandelstam nasceu a 15 de janeiro de 1891 em Varsóvia. Muito cedo foi viver em São Petersburgo; na cidade, estuda na prestigiosa Escola Tênichev. Faz parte da sua formação em literatura em Heidelberg, na Alemanha e em filosofia na Universidade de São Petersburgo, mas não consegue completar o curso superior. Em 1911 mantém relações com o Guilda dos Poetas, grupo literário que daria origem ao movimento acmeísta e revelou a poeta Anna Akhmátova. Sua estreia na poesia se dá dois anos depois com o livro Pedra; em 1922, publica Tristia, logo reconhecido um dos mais importes livros da poesia russa. Além da poesia, Mandelstam também escreveu prosa, como O rumor do tempo (1925). O ano de 1928 foi, para ele, o dos prodígios: reeditou seu livro de 1925 e publicou Teodósia, A marca egípcia e Sobre a poesia; reuniu toda sua obra poética em Poemas; e iniciou a escrita de Quarta prosa, livro que ficou inédito. Morreu a 27 de dezembro de 1938 na prisão aos arredores de Vladivostok.



 * Traduções de Francisco Araújo. Estas poemas foram publicados inicialmente na revista Desenredos, de jan.-março de 2010.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Sobre o lançamento da edição especial do Caderno-revista 7faces

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Tudo estava programado para que o lançamento da edição especial do Caderno-revista 7faces, que é uma edição artístico-acadêmica sobre a obra poética de José Saramago, saísse daqui a dois dias, isto é, pela data de um ano da morte do escritor português, 18 de junho. 

Entretanto, a cabeça idealizadora desta edição achou por bem unir forças e, ao invés de promover um lançamento virtual, apenas, fazer também um lançamento físico da ideia. 

A nova data agora é o dia 30 de junho; portanto, ainda dentro do mês de Saramago. 

Estuda-se ser feito em três sessões principais: uma em Mossoró - a do dia 30 de junho; outra em Pau dos Ferros, com data ainda por definir; e a terceira, em Natal, também com data ainda por definir. 

A possível sessão do dia 30 de junho deverá acontecer no Auditório da Biblioteca Municipal Ney Pontes Duarte, com a realização de uma conferência, mais palavras do editor e organizador do material, apresentação da revista e coquetel. 

Essa sessão anda a ser planejada em conjunto com o editor da revista Cruviana, que pretende, no mesmo dia, por em circulação a primeira edição do periódico. 

De todo modo, será um rico evento e um lançamento merecido, afinal, esta edição do 7faces vem sendo organizada desde junho de 2010, portanto, exatos um ano de trabalho. Mais novidades, assim que for fechado todos os trâmites.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Dois poemas de Luis Cernuda



TEIAS DE ARANHA PENDURADAS DA RAZÃO
Teias de aranha penduradas da razão
Numa paisagem de cinza absorta;
Já passou o furacão do amor,
Já não resta pássaro algum.

Tampouco folha alguma,
Todas vão longe, como gotas de água
De um mar quando seca,
Quando já não há lágrimas suficientes,
Porque alguém, cruel como um dia de sol na primavera,
Com apenas sua presença dividiu em dois um corpo.

Agora cabe recolher os restos de prudência,
Embora sempre algum nos falte;
Recolher a vida vazia
E caminhar esperando que lentamente se encha,
Se é possível, outra vez, como antes,
De sonhos desconhecidos e desejos invisíveis.

Tu não sabes nada disso,
Tu estás lá, cruel como o dia;
O dia, essa luz eu abraça bem apertado este triste muro,
Um muro, não entendes?,
Um muro diante do qual estou só.


NÃO DIZIA NADA
Não dizia nada,
aproximava apenas um corpo interrogante,
Porque ignora ser o desejo uma pergunta
Cuja resposta não existe,
Uma folha cujo ramo não existe,
Um mundo cujo céu não existe.

A angústia abre caminho entre os ossos,
Remonta pelas veias
Até romper-se na pele,
Provedores de sonho
Feito carne em interrogação volta às nuvens.

Um roce de passagem,
Um olhar fugaz entre as sombras,
Bastam para que parta o corpo em dois,
Ávido de receber em si mesmo
Outro corpo que sonhe;
Metade e metade, sonho e sonho, carne e carne,
Igual em desenho, iguais em amor, iguais em desejo.

Mesmo sendo apenas uma esperança,
Porque o desejo é uma pergunta cuja resposta ninguém sabe.

* Traduções de Antonio Miranda