quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Três




Não lhe contarei minha história.
a da vaquinha morta,
e não me deu o leite da vida:
urubus pastaram seus olhos.
E pastarão sobre mim.

Nem a história de mamãe-titia,
de meu pai-pequeno-e-feio,
de meu nascer-Chico
por simples fuxico.
Não houve melhor jeito.
Depois, morreremos de comer, de beber:
— o sono-inanição era todo nosso.

E o medo do outro (e de nós?)
e os desejos menos preciosos
que morriam?

o mundo antes de mim,
do alto do descaso,
jogou-me na grande roleta.
E bicho permaneço.

Não me deram nem carne nem osso,
nem cabeça — mundo deus, mundo diabo.
Deram-me tripa
muita tripa
e coração.

Assim subvivi para este sonho
entre aves de rapina
e frutos escassos,
cactos, espinhos, trapos,
despetalando a vida que não quis.

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Publicado inicialmente no site Jornal de Poesia