segunda-feira, 30 de julho de 2012

Já está online a 5ª edição do Caderno-revista 7faces



Já está online. a 5ª edição do caderno-revista 7faces. Este número que ora se apresenta tem, como foi dito noutras ocasiões, um sentido muito importante para o periódico, que é o de ser o primeiro número depois da consolidação da ideia. O espaço tem dado resultados mais que suficientes de sua capacidade de por em face várias vozes poéticas de todos os recantos da língua portuguesa. Reforçamos que, nas quatro edições já publicadas, mais 50 nomes já foram disponibilizados; nomes conhecidos, com várias obras já editadas no mercado livreiro e nomes ainda por conhecer.

Na presente edição somam-se mais vinte nomes, ultrapassando em seis a cota de catorze poetas por edição: Paulo Vitor Grossi, Leonardo Terra Messias, Elizabeth dos Santos Columa, Emanuel R. Marques, Jorge Elias Neto, Anderson Petroni, Ângela Cláudia Rezende, Celso Gutfreind, Clarissa Macedo, Lucas dos Passos, Amélia Luz, Rolando Revagliatti, Ricardo Mendes Mattos, Vinícius Ferreira Barth, Rafael Kafka, Pedro Belo Clara, Renata Iacovino, André Giusti, Maria Sueli da Costa e Keutre Gláudia.

Depois de homenagear os poetas Zila Mamede, Jorge Fernandes, Diva Cunha, e Marize Castro- homenageamos agora um dos poetas mais conceituados da nova geração de poetas brasileiros: o maranhense Salgado Maranhão, que vem representado por textos do professor Claudicélio Rodrigues e Ítalo Meneghetti.

Além das exposições de dois artistas plásticos brasileiros: Nil Catalano com aquarelas e desenhos e Mauro Silper.

E encartado à edição dois ricos materiais inéditos do poeta Márcio de Lima Dantas. Publicamos do poeta, junto à terceira edição, xerófilo e agora o poeta nos presenteia com mais um inédito, Rol da feira, um conjunto com 23 novos poemas. E mais: o poeta é também um desenhista. Editamos um catálogo com duas séries completas de desenhos de Márcio sob o título de Caderno de desenhos.

Aproveitamos a ocasião para divulgar que, já a partir do dia 1º de agosto estará aberta uma nova chamada, agora, para a 6ª edição a ser publicada em janeiro de 2013.

Vá por aqui e boa leitura!

terça-feira, 24 de julho de 2012

A noite

A noite veio de dentro, começou a surgir do interior
de cada um dos objectos e a envolvê-los no seu halo negro.
Não tardou que as trevas irradiassem das nossas próprias
entranhas, quase que assobiavam ao cruzar-nos os poros.
Seriam umas duas ou três da tarde e nós sentíamo-las
crescendo a toda a nossa volta. Qualquer que fosse a pers-
pectiva, as trevas bifurcavam-na: daí a sensação de que,
apesar de a noite também se desprender das coisas, havia
nela algo de essencialmente humano, visceral. Como ins-
tantes exteriores que procurassem integrar-se na trama
do tempo, sucediam-se os relâmpagos: era a luz da tarde,
num estertor, a emergir intermitentemente à superfície das
coisas. Foi nessa altura que a visão se começou a fazer
pelas raízes. As imagens eram sugadas a partir do que
dentro de cada objecto ainda não se indiferenciara da luz
e, após complicadíssimos processos, imprimiam-se nos
olhos. Unidos aos relâmpagos, rompíamos então a custo
a treva nasalada.



Trem da vida


Uma lagarta se arrasta
Carregada de amanhã.
Enrosca-se para dormir
Como um novelo de lã.

Uma borboleta acorda,
O azul inaugura o dia:
Pétala ao sabor do vento
Na manhã que se inicia.

Canção


Venho para uma estação de águas nos teus olhos;
Ouves? É o rumor da noite que vem do mar.
Meu amor.


Perto de mim o teu corpo cheirando a flor de cajueiro.
Que saudades do sol. Do mar de sol.
Do nosso mar de jangadas.


Escuta:
A noite que vem cantando
Vem do mar.


Para que eu voltasse tu me prometeste novas carícias
No entanto o que me dás agora é ainda o mesmo amor
De antigamente.
E depois estás mais velha.
Os teus olhos bruxuleiam.
Os teus lábios se apagaram.
Eu vou partir.
As barcaças vão passando junto ao cais.
Eu vou partir, viajar.
Itapissuma.   Goiana.   Itamaracá.


Olha o verão que vem!
Viva o verão que vai chegar.
Viva a paisagem roxa dos cajueiros que vão florir!
Eu vou partir, viajar.

razão nenhuma



o que escrevo
é apenas parte
do que sinto

a outra parte
finjo que minto

         e acredito

Cinco poemas de Waly Salomão




Carta aberta a John Ashbery

A memória é uma ilha de edição - um qualquer
passante diz, em um estilo nonchalant,
e imediatamente apaga a tecla e também
o sentido do que queria dizer.

Esgotado o eu, resta o espanto do mundo não ser
levado junto de roldão.
Onde e como armazenar a cor de cada instante?
Que traço reter da translúcida aurora?
Incinerar o lenho seco das amizades esturricadas?
O perfume, acaso, daquela rosa desbotada?

A vida não é uma tela e jamais adquire
o significado estrito
que se deseja imprimir nela.
Tampouco é uma estória em que cada minúcia
encerra uma moral.
Ela é recheada de locais de desova, presuntos,
liquidações, queimas de arquivos,divisões de capturas,
apagamentos de trechos, sumiços de originais,
grupos de extermínios e fotogramas estourados.
Que importa se as cinzas restam frias
ou se ainda ardem quentes
se não é selecionada urna alguma adequada,
seja grega seja bárbara,
para depositá-las?

Antes que o amanhã desabe aqui,
ainda hoje será esquecido
o que traza marca d'água d'hoje.

Hienas aguardam na tocaia da moita enquanto
os cães de fila do tempo fazem um arquipélago
de fiapos do terno da memória.
Ilhotas. Imagens em farrapos dos dias findos.
Numerosas crateras ozonais.
Os laços de família tornados lapsos.
Oco e cárie e cava e prótese,
assim o mundo vai parindo o defunto
de sua sinopse.
Sem nenhuma explosão final.

Nulla dies sine linea. Nenhum dia sem um traço.
Um, sem nome e com vontade aguada,
ergue este lema como uma barragem
anti-entropia.

E os dias sucedem-se e é firmada a intenção
de transmudar todo veneno e ferrugem
em pedaço do paraíso. Ou vice-versa.
Ao prazer do bel-prazer,
como quem aperta um botão da mesa
de uma ilha de edição
e um deus irrompe afinal para resgatar o humano fardo.

Corrigindo:
                  o humano fado.


Barroco

Mundo e ego: palcos geminados.
Quero crer que creio
E finjo que creio
Que o mundo e ego
Ambos
São teatros
Díspares
E antípodas.
Absolutos que se refratam/difratam...
Espelhos estilhaçados que não se colam.
Entanto são
Ecos de ecos que se interpenetram
Partículas de ecos ocos, partículas, partículas de ecos plenos que se conectam
Aí cosmos são cagados, cuspidos e escarrados pelo opíparo caos
E o uso do adjetivo está correto
Pois que o caos é um banquete.
Fantasmas de óperas.
Ratos de coxias.
Atos truncados.
Há uma lasca de palco
em cada gota de sangue
em cada punhado de terra
de todo e qualquer poema.


Sargaços
para Maria Bethânia

Criar é não se adequar à vida como ela é,
Nem tampouco se grudar às lembranças pretéritas
Que não sobrenadam mais.
Nem ancorar à beira-cais estagnado,
Nem malhar a batida bigorna à beira-mágoa.

Nascer não é antes, não é ficar a ver navios,
Nascer é depois, é nadar após se afundar e se afogar.
Braçadas e mais braçadas até perder o fôlego
(Sargaços ofegam o peito opresso),
Bombear gás do tanque de reserva localizado em algum ponto
Do corpo
E não parar de nadar,
Nem que se morra na praia antes de alcançar o mar.

Plasmar
bancos de areias, recifes de corais, ilhas, arquipélagos, baías,
espumas e salitres,
ondas e maresias.

Mar de sargaços

Nadar, nadar, nadar e inventar a viagem, o mapa,
o astrolábio de sete faces,
O zumbido dos ventos em redemoinho, o leme, as velas, as cordas,
Os ferros, o júbilo e o luto.
Encasquetar-se na captura da canção que inventa Orfeu
Ou daquela outra que conduz ao mar absoluto.
Só e outros poemas
Soledades
Solitude, récif, étoile.

Através dos anéis escancarados pelos velhos horizontes
Parir,
desvelar,
desocultar novos horizontes.
Mamar o leite primevo, o colostro, da Via Láctea.
E, mormente,
remar contra a maré numa canoa furada
Somente
para martelar um padrão estóico-tresloucado
De desaceitar o naufrágio.
Criar é se desacostumar do fado fixo
E ser arbitrário.

Sendo os remos imateriais

(Remos figurados no ar pelos
círculos das palavras.)


Amante da Algazarra

Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto.
É ela !!!
Todo mundo sabe, sou uma lisa flor de pessoa,
Sem espinho de roseira nem áspera lixa de folha de figueira.

Esta amante da balbúrdia cavalga encostada ao meu sóbrio ombro
Vixe!!!
Enquanto caminho a pé, pedestre -- peregrino atônito até a morte.
Sem motivo nenhum de pranto ou angústia rouca ou desalento:
Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto
E se apossou do estojo de minha figura e dela expeliu o estofo.

Quem corre desabrida
Sem ceder a concha do ouvido
A ninguém que dela discorde
É esta
Selvagem sombra acavalada que faz versos como quem morde.


Devenir, devir


Término de leitura
de um livro de poemas
não pode ser o ponto final.

Também não pode ser
a pacatez burguesa do
ponto seguimento.

Meta desejável:
alcançar o
ponto de ebulição.

Morro e transformo-me.

Leitor, eu te reproponho
a legenda de Goethe:
Morre e devém

Morre e transforma-te.   



segunda-feira, 23 de julho de 2012

Sete dias para a 5ª edição do Caderno-revista 7faces



Estamos a exatos sete dias do lançamento da 5ª edição do caderno-revista 7faces. E vamos aqui lembrar duas coisas:

1. As pessoas ainda parecem não ter se acostumado com a ideia das coisas acontecerem virtualmente. Sim. Isso mesmo. O caderno-revista 7faces é um periódico semestral e este quinto número - que na verdade, é o sexto, porque teve uma edição especial que foi organizada com materiais acadêmicos acerca da poesia de José Saramago - e na chegada de todas elas, foi feito os chamados lançamentos virtuais, exceto a especial, que de tão especial teve um lançamento físico com direito a um ensaio de coquetel. Agora, cabe justificar a conclusão para essa constatação. Não foi nenhum desses censos que andou à sua cata não. Foi intuição observadora mesmo. Desde a terceira edição, quando o Letras já dispunha de sua fan page no Facebook, que se bolava os eventos de lançamento on-line. Antes, outros recursos eram utilizados, e hoje ainda, como e-mail, youtube e algum espaço pingado na web que, talvez na falta do que escrever, punha num mal gosto as informações para o novo número do caderno-revista (perdão, aqui não nem desmerecimento para atitude de quem ao menos a contra-gosto deu a conhecer a ideia, não, é mera fala de alguém independente que sente um intruso no meio onde circula). Mas, na fan page, em que se criam a lista de convidados virtuais, talvez a pressa (essa inimiga da perfeição, como sempre acreditaram os mais velhos), ou a inocência de que o organizador do caderno-revista dispõe de dinheiro suficiente para dar de comer e de beber a quem às vezes só vai aos lançamentos fazer isso, se nega a participar dos lançamentos, ou diz um talvez, ou um faz uma recusa. Os tempos são outros. Os lançamentos virtuais continuarão a existir, até que as pessoas entrem no espírito da coisa; um dia há-de chegar. Não é possível. Que custa dizer que vai, não é mesmo? Lançamentos virtuais serão, provavelmente, uma das invenções mais mal inventadas, porque separam ainda mais o contato humano face a face. Mas, vejam pelo outro lado. Se chove ou faz sol você pode está presente sem se preocupar com o transporte (para aqueles que não tem). Se tem tempo ou não, não é desculpa. Com um computador conectado à internet seja em que brenha do universo você esteja é possível participar do fato. E como gostamos de atrasos, também podem se atrasar à vontade. Inclusive nem irem ao local, que geralmente é depois da meia noite, que é o fim e começo do dia que as coisas acontecem. Às vezes, não raras, até quem publica nem está lá mesmo. Então, você pode ir ao lançamento quando lhe der vontade. Outra, nunca você irá reclamar se o refrigerante ou outra bebida qualquer e a comida não está do seu agrado. Em casa, você faz seus petiscos e prepara seus bebes e vai para a frente do computador. Muito prático, não é? Pois, ainda tem gente (e muita) que tem medo de se atrasar, diz que não vai porque não tem tempo ou mesmo que a hora é incômoda. Imaginem!

2. Já viram as alterações feitas no espaço do caderno-revista? Pois está mais que na hora. A estante está mais bem arrumada agora e com acesso mais favorável a todos os números já publicados e com informações mais detalhadas sobre. Recebeu novas divisórias de conteúdo porque em três anos de publicações - mesmo semestralmente - já se tem alguma coisa palpável que pode levar os leitores a algumas horinhas do seu precioso tempo para as visualizações. Nesse rol de novidades, as coisas acontecem no passo da tecnologia. Se ela nos proporciona serviços que precisamos a custo zero, por que não usá-los, não é mesmo? Pois o Google com um tal de Google Drive, espécie de Google Docs aperfeiçoado (e muito mais afeiçoado a quem necessita de praticidade nesses territórios de Alice), agora foram disponibilizados links que dão acesso direto às edições no formato PDF para baixar seja em qual meio eletrônico você goste de ler. É verdade que a qualidade é ainda, como se diz nas bandas de cá, meio capenga, sabe? Mas, melhor que fazer os malabarismos de antes para ter esse conteúdo, ah isso é verdade! Antes a coisa ficava sempre hospedada nos servidores que disponibilizam conteúdo a custo zero on-line e os leitores menos à vontade com a tecnologia não conseguiam descarregar os arquivos no seus computadores e lá vinham os e-mails solicitando que lhos enviassem a edição em anexo por lá. Seus problemas e nossos também estão resolvidos. E, para fechar essas novidades todas: enfim, um regulamento pronto para uso por tempo indeterminado. Já havia sido elaborado um regulamento para acompanhar o envio dos materiais, mas sempre havia algum ajuste que as situações sempre únicas exigem, agora a coisa está resolvida também. Adotou-se um esquema de datas fixas para envio das contribuições e um conjunto de regras básicas que regerão tudo o que for enviado à redação do caderno-revista. Bem, é isto. Agora, não custará fazer uma visitinha de cortesia (aqui, ó) e vê se gostaram da coisa como está. Aproveitar para espiar e ler as edições passadas e curtir a fan page do caderno-revista no Facebook (vai aqui, ó) que está, assim, contando os dias para a chegada da próxima edição com umas frases fabulosas do Salgado Maranhão, o poeta homenageado. 

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Vem aí a 5ª edição do caderno-revista 7faces

(Clique sobre a imagem para ampliar)

O caderno-revista 7faces entra na sua 5ª edição. Ultrapassamos os limites até agora pensados para a proposta. Primeiro, porque o quinto número é o primeiro do terceiro ano do periódico; segundo, esta edição foi a que mais recebeu trabalhos: foram, como noticiamos na página do Facebook, 100 poetas que nos mandaram materiais. O que se lerá, portanto, é apenas uma amostra do que foi recebido, já que só publicamos vinte nomes, ultrapassando em seis a cota de catorze poetas por edição. Terceiro, vem poemas que não estão em português, mesmo estando no editorial do caderno-revista que só publicamos material na língua mãe.

Homenageamos um dos poetas mais conceituados da nova geração de poetas brasileiros: Salgado Maranhão. E encartado à edição dois ricos materiais inéditos do poeta Márcio de Lima Dantas. Lembram que publicamos do poeta, junto à terceira edição, xerófilo? Pois bem, o poeta nos presenteia com mais um inédito, Rol da feira, um conjunto com 23 novos poemas. E mais: o poeta é também um desenhista. Editamos um catálogo com duas séries completas de desenhos de Márcio.

Quando tudo isso virá a lume? Anotem. Dia 30 de julho, como já leram no convite acima. No lugar de costume (vá aqui).