quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Dois poemas de Florbela Espanca



Languidez

Tardes de minha terra, doce encanto,
Tardes duma pureza, d'açucenas,
Tardes de sonho, as tardes de novenas,
Tardes de Portugal, as tardes d'Anto,

Como eu vos quero e amo! Tanto! Tanto!...
Horas bemditas, leves como penas,
Horas de fumo e cinza, horas serenas
Minhas horas de dor em que eu sou santo!

Fecho as pálpebras roxas, quási pretas,
Que poisam sobre duas violetas,
Asas leves cansadas de voar...

E a minha bôca tem uns beijos mudos...
E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonhos pelo ar...


Poetas

Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas.

E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!


Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, Alentejo, em 8 de dezembro de 1894. A produções poética dos anos 1915 a 1917 foi escrita para um único livro que chamou de Trocando olhares; desta obra, uma parte daria origem a O livro d’ele, título que não foi se concretizar. De poesia  publicou Livro de mágoas (1919), Livro de Soror Saudade (1923), Reliquiae (1931), Charneca em flor (1929) e Dominó negro (1931). Também escreveu prosa. Florbela suicidou-se no dia do seu aniversário em 1890, em Matosinhos. 

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