quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Três poemas de Vernaide Wanderley


Semanas de colheita

Alegrias rolaram
sobre torçais do cinto,
alegoria e festas profanas
inundando meu colo de vermelho.

Guardemos a chama
desta quarta feira e grãos
que caírem agora, sazonado tempo,
selecionado tempo,
para que todos completem
seu bornal.

Passo a ter excessivo zelo
quando toco peças da escrivaninha,
seus papéis
e textos semi abertos,
porque é preciso cultivar
um rosto e uma alma
que enfrentem novamente as ruas,
saber finda a estação de escolha
e que vidrilhos serão sombra para mim.


Redemoinhos de luz

Brancos seixos
molhavam de prata
o negror do caminho,
mas eu sentia medo
do chão contorcido,
pisado por homens e mitos
que saltavam da memória.

Pingentes de estrelas
faziam-me fada ou princesa,
presa na mão de um quixote
de calças curtas e esporas,
chutando os seixos de prata
que o rio mais cedo rolou
e escondeu no seu dorso vazio.


Uma canção e um pecado

Gingas, em sono,
belo lutador sem armas,
bailarino noturno
que abraça as almofadas,
sonha nesta cantiga
para que meus dedos ouçam
a quietude de teus nervos,
para que eu veja
estampados no teu dorso,
pecados inconfessos de ontem.


* Os poemas foram publicados inicialmente no Facebook da poeta.