quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Fernando Pessoa por Sophia de Mello Breyner Andresen





Fernando Pessoa

Teu canto justo que desdenha as sombras
Limpo de vida viúvo de pessoa
Teu corajoso ousar não ser ninguém
Tua navegação com bússola e sem astros
No mar indefinido
Teu exacto conhecimento impossessivo

Criaram teu poema arquitectura
E és semelhante a um deus de quatro rostos
E és semelhante a um deus de muitos nomes
Cariátide de ausência isento de destinos
Invocando a presença já perdida
E dizendo sobre a fuga dos caminhos
Que foste como as ervas não colhidas

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto em 6 de novembro de 1919 e morreu em 2 de julho de 2004, em Lisboa. Em 1999 recebeu o mais importante prêmio das literaturas de língua portuguesa, o Camões e, no ano da sua morte o Reina Sofía. Autora de uma vasta obra poética, todos os livros seus foram reunidos na antologia Obra poética.

* Este poema está em Cem Poemas de Sophia (Paço de Arcos: Editorial Caminho-Visão/JL, 2004).