A partir de amanhã, 1º de fevereiro estará aberta chamada para a 7ª edição a ser publicada entre junho e julho próximos. Deste número em diante o caderno-revista passa a ser editado em parceria com Cesar Kiraly, que integra já uma nova equipe editorial. A proposta só terá ganhos com essa parceria dadas a experiência e dedicação que o professor tem demonstrado desde quando dos primeiros diálogos de integração do caderno-revista.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
6ª edição do caderno-revista 7faces está on-line
A partir de amanhã, 1º de fevereiro estará aberta chamada para a 7ª edição a ser publicada entre junho e julho próximos. Deste número em diante o caderno-revista passa a ser editado em parceria com Cesar Kiraly, que integra já uma nova equipe editorial. A proposta só terá ganhos com essa parceria dadas a experiência e dedicação que o professor tem demonstrado desde quando dos primeiros diálogos de integração do caderno-revista.
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Nova edição do caderno-revista 7faces chega on-line dia 31 de janeiro
por Pedro Fernandes
sábado, 26 de janeiro de 2013
Sylvia Plath recita "Daddy"
sábado, 19 de janeiro de 2013
3 poemas de Ronald de Carvalho
Anoitece...
Venho sofrer contigo a hora dolente que erra,
Sob a lâmpada amiga, entre um vaso com rosas,
Um festão de jasmins, e a penumbra que desce...
Hora em que há mais distância e mágoa pela terra;
Quando, sobre os chorões e as águas silenciosas,
Redonda, a lua calma e sutil, aparece...
Mais um dia se foi, menos uma ilusão!
E assim corre, igualmente, a ampulheta da vida.
Senhor! depois de mim, como folhas em bando,
Num crepúsculo triste, outros homens virão
Para recomeçar a rota interrompida,
E a amargura sem fim de um mesmo sonho vão...
Sobre os campos a bruma ondeia, devagar.
Estremecem no céu estrelas sonolentas
E os rebanhos, que vão na neblina lunar,
Agitam molemente, ao longe, as curvas lentas
Das estradas de esmalte, ao rudo som das frautas.
Tremula ainda, no poente, a luz de alguns clarões,
E, enquanto sobre o meu teu olhar adormece,
Entre o perfil sombrio e vago dos chorões,
Redonda, a lua calma e distante, aparece...
CARVALHO, Ronalde. Anoitece. In: MURICY, Andrade. Panorama do movimento simbolista brasileiro. 2.ed. Brasília: INL, 1973, p.1056.
Geometrias, imaginações destes caminhos
da minha terra!
Curvas de trilhas,
triângulos de asas,
bolas de cor...
Círculos de sombras agachadas entre as árvores,
cilindros de troncos embebidos na luz.
da minha terra!
pingando bilhas polidas,
o leque das bananeiras abana o ar da manhã...
CARVALHO, Ronald de. Poesia e prosa. Org. Peregrino Júnior. 2.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1977.
Volúpia do vento noturno,
do vento que vem das montanhas e das ondas,
do vento que espalha no espaço o cheiro das resinas,
a exalação da maresia e do mato virgem,
das mangas maduras, das magnólias e das laranjas,
dos lírios do brejo e das praias úmidas.
quando o brilho das estrelas é fixo, duro,
quando sobe da terra um hálito quente, abafado,
Volúpia do vento morno do verão,
carregado de odores excitantes,
como um corpo de mulher adolescente,
de mulher que espera o momento do amor...
CARVALHO, Ronald de. O espelho de Ariel e poemas escolhidos. Pref. Antônio Carlos Villaça. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; Brasília: INL, 1976. p.173.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Quatro poemas de Yehuda Amichai traduzidos por Millôr Fernandes
como um comprido trem sem princípio nem fim,
sem causa ou intenção.
Eu sempre fico num lado do cruzamento
a cancela está fechada e verifico tudo:
vagões de passageiros e história,
vagões entulhados de guerra,
vagões transbordantes de seres humanos para extermínio,
janelas com caras de homens e mulheres de partida,
exaltação de viajantes, aniversários e mortes,
súplicas e piedades, e quantidades de vagões vazios chacoalhando.
Assim meus filhos passam a seu futuro,
Assim o Senhor passou sobre Moisés no Grande Deserto,
E Moisés não viu Sua Face, só gritou; “Senhor,
Ó Senhor, misericordioso e gracioso, abundante em bondade e verdade"
Assim a glória passa, assim a cancela fica fechada
até o fim de meus dias.
Sinal de que os cardeais escolheram seu Papa.
Do crematório de Auschwitz sobe fumaça negra
Sinal de que o conclave dos Deuses ainda não elegeu
O Povo Eleito. Depois de Auschwitz, nenhuma teologia.
Os números nos punhos
Dos internos para exterminação
São os números dos telefones de Deus
números que não respondem e agora são desligados,
um a um.
Depois de Auschwitz, uma nova teologia;
Os judeus que morreram no Shoah
Agora ficaram semelhantes a seu Deus
Que não tem semelhança com um corpo e não tem corpo
Eles não têm semelhança com um corpo e não tem corpo.
A marchar no ritmo de braços e pernas
Como bombas bombeando um poço vazio.
A marchar numa fila e sozinho no meio,
A enterrar em travesseiros,
Colchões de penas,
O corpo de uma mulher amada.
E a gritar “mamãe”
Quando ela não pode ouvir,
E a gritar por deus
Quando eu não creio nele,
E mesmo que acreditasse nele
Eu não lhe falaria sobre a guerra
Como a uma criança não se fala
Dos horrores adultos.
Que mais eu aprendi.
Aprendi
A reservar um caminho para a retirada.
Em terras estrangeiras
Alugar um quarto em hotel
Perto do aeroporto ou da estação de trem.
E mesmo em cerimônias nupciais
Ficar sempre de olho na pequena porta
Com o sinal “exit” em letras vermelhas.
Uma batalha começa
Com tambores rítmicos para dança e termina
Com uma “retirada ao amanhecer”.
Amor proibido
Algumas vezes também começa e acaba assim.
Mas acima de tudo
Aprendi a sabedoria da camuflagem,
Não ficar visível, não ser reconhecido,
Não me distinguir daquilo que me cerca,
Nem mesmo de quem amo.
Que pensem que sou uma moita ou um carneiro,
Uma árvore, a sombra de uma árvore,
Uma cerca viva, uma pedra morta,
Uma casa, o canto de uma casa.
Se eu fosse um profeta
Teria diminuído o brilho da visão
Escurecido minha fé com papel negro.
E quando chegar meu tempo,
Endossarei a camuflagem de gala do meu fim:
Com branco de nuvens, bastante azul de céu,
E estrelas infinitas.
cheias de evidências físicas, palavras sem fim, testemunhos,
um par de calças vincadas, um jornal com a data exata,
e dois relógios, o dele e o dela.
Toda manhã eles traçam o contorno um do outro
como a polícia marca com giz a posição do corpo na estrada.
Amantes rendem um o outro,
amantes reservam o direito de manter silêncio.
Se e quando se separam,
compõem um esboço policial de suas caras
e um contorno pra que possam dizer:
E esse! E essa!
sábado, 12 de janeiro de 2013
Uma manhã
para Xia, que viaja sozinha para o Tibete
uma manhã com bocejos e cansaço
eu imagino
entre você e as terras altas
o céu é impensável
profundo
sem vento, sem nuvens, sem névoa
translúcido o azul evanescente como em nenhum outro lugar
fiquei muito calmo
quando seu contorno desapareceu
cresceu um desejo de distância
como nas linhas das mãos pequenas
de crianças outro segue
por nossos corpos sinuosos
na busca pela palavra única
como um perfume, guiando a alma
os raios da manhã tremeluzem
um sentimento algo estranho
como um novo par de sapatos
pronto para a viagem
engravida meus sonhos
as montanhas nevadas no ar rarefeito
colhem ansiosas
a fumaça de seu suspiro
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
Nomes para a 6ª edição do caderno-revista 7faces
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
Três poemas de Weldon Kees
Sob a inocência da carne da manhã
Escondidas, alusões de morte em que não reparo.
O mais frio dos ventos levantou estes cabelos, e trama
De algas entreteceu estas miniaturas de mãos;
O lento veneno da noite, tolerante e brando,
Moveu o seu sangue. Ressequidos anos que vi
E que dela podem ser aparecem: putrefacta, demorada
Morte em certa guerra, as magras pernas verdes.
Ou, alimentada de ódio, ela delicia-se no aguilhão
Da agonia de outros; talvez a cruel
Noiva de um sifilítico ou louco.
Estas especulações azedam ao sol.
Eu não tenho filha. Não desejo nenhuma.
Um filme de morte: observai
Estas cenas que fragmentos de celulóide
Sem apoios nem taxas revelam.
Toda a pastilha elástica deve ser colocada sob os assentos
Ou engolida rapidamente, todos os cartuxos de pipocas
Devem ser abandonados no vestíbulo. As portas
Permanecerão fechadas ao longo da representação. Por gentileza consultai
Os vossos programas: observai que
Não há saídas. Isto é uma precaução necessária.
Som de voz humana: tivemos o cuidado
De sincronizar esta fita com
Guinchos de porcos, lento som de armas,
O afiado e amortecido estalido
De máquinas de chocolates vazias.
Repetimos: aqui não
Há saídas, guardas para subornar,
Janelas de casa de banho.
Que o fim seja vosso.
Apagai as luzes, lembrai
Ao operador a sua carteira profissional:
Sentai-vos para a frente, deixai o écran revelar
A vossa herança, a lógica do vosso destino.
Para aqueles que morrem no escuro sós
Para aqueles que vagueiam em arruinadas ruas
Estas praças de treva são janelas
Os mudos fios eléctricos estendem-se no céu
A imobilidade do ar
Sob frias estrelas
E perto do rio seco
Um velho sem sombra vagueia só
Aqui está a tua tarde
Que memórias Que arruinados portos?
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
Um poema de Casimiro de Abreu
AMOR E MEDO
Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
— “Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!”
Como te enganas! meu amor, é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...
Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.
O véu da noite me atormenta em dores
A luz da aurora me enternece os seios,
E ao vento fresco do cair cias tardes,
Eu me estremeço de cruéis receios.
É que esse vento que na várzea — ao longe,
Do colmo o fumo caprichoso ondeia,
Soprando um dia tornaria incêndio
A chama viva que teu riso ateia!
Ai! se abrasado crepitasse o cedro,
Cedendo ao raio que a tormenta envia:
Diz: — que seria da plantinha humilde,
Que à sombra dela tão feliz crescia?
A labareda que se enrosca ao tronco
Torrara a planta qual queimara o galho
E a pobre nunca reviver pudera.
Chovesse embora paternal orvalho!
Ai! se te visse no calor da sesta,
A mão tremente no calor das tuas,
Amarrotado o teu vestido branco,
Soltos cabelos nas espáduas nuas! ...
Ai! se eu te visse, Madalena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio,
Olhos cerrados na volúpia doce,
Os braços frouxos — palpitante o seio!...
Ai! se eu te visse em languidez sublime,
Na face as rosas virginais do pejo,
Trêmula a fala, a protestar baixinho...
Vermelha a boca, soluçando um beijo!...
Diz: — que seria da pureza de anjo,
Das vestes alvas, do candor das asas?
Tu te queimaras, a pisar descalça,
Criança louca — sobre um chão de brasas!
No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem,
Vil, machucara com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!
Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço,
Anjo enlodado nos pauis da terra.
Depois... desperta no febril delírio,
— Olhos pisados — como um vão lamento,
Tu perguntaras: que é da minha coroa?...
Eu te diria: desfolhou-a o vento!...
Oh! não me chames coração de gelo!
Bem vês: traí-me no fatal segredo.
Se de ti fujo é que te adoro e muito!
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!...
•
Casimiro de Abreu nasceu a 4 de janeiro de 1839 em Nova Friburgo. É considerado um dos nomes mais significativos da segunda geração do romantismo no Brasil. De família de posses, ligada ao comércio, foi muito cedo viver no Rio de Janeiro e depois para Portugal. No retorno ao Brasil para trabalhar no armazém de seu pai, logo publicou o seu principal livro, Primaveras, que recolheu seus exercícios com a poesia até então. Colaborou com revistas brasileiras de seu tempo, como O panorama e A ilustração luso-brasileira. Também escreveu romance e texto para teatro. Morreu em decorrência da tuberculose na cidade onde nasceu a 18 de outubro de 1860.