domingo, 3 de março de 2013

Dois poemas de Eugénio de Andrade

Ilustração Dórdio Gomes.



ALBA

Como se não houvera
bosque mais secreto,

como se as nascentes
fossem só ardor,

como se o teu corpo
fora a vida toda –

o desejo hesita
em ser espada ou flor.


TEMA E VARIAÇÕES EM TOM MENOR

Para jardim te queria.
Te queria para o gume
ou o frio das espadas.
Te queria para lume.
Para orvalho te queria
sobre as horas transtornadas.

Para a boca te queria.
Te queria para entrar
E partir pela cintura.
Para o barco te queria.
Te queria para ser
canção breve, morte pura.

Eugénio de Andrade foi nome adotado por José Fontinhas desde quando iniciou sua carreira artística. Nasceu no dia 19 de janeiro de 1923, no Fundão, distrito de Póvoa de Atalaia; viveu em Lisboa e Coimbra antes de fixar residência no Porto, onde viveu até sua morte em 13 de junho de 2005. Publicou o primeiro livro, Narciso, em 1940, porta que se abriu para mais de duas dezenas de títulos entre poesia e prosa, além das participações em antologias. Trabalhou como tradutor e para o português verteu obras de poetas como Federico García Lorca. Dentre os diversos prêmios que recebeu estão o Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores e o Camões.

* A ilustração e os poemas foram publicados inicialmente na Revista Colóquio/Letras, n.1. Lisboa, março de 1971, p.68-69.


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