sexta-feira, 29 de abril de 2016

Três poemas de Yannis Ritsos



AGUARDANDO SUA EXECUÇÃO

Lá, mantido contra o muro, ao amanhecer, seus olhos
       descobertos,
enquanto doze armas são-lhe apontadas, ele com calma sente
que é jovem e tem boa aparência, que deseja estar bem barbeado,
que o horizonte distante, rosa pálido, se converte nele
– e, sim, que seus genitais conservam seu próprio peso,
há algo triste na excitação deles – aí onde
      os eunucos miram,
e para onde apontam; – se converteu já na estátua
de si mesmo?
Ele, vendo-se lá, nu, num dia brilhante
de verão grego, na praça, – olhando para o
que está no alto
ele mesmo depois os ombros da multidão, por trás
de apressados turistas de grandes nádegas,
por trás das três velhas falsas de chapéus pretos.


DISTANCIAMENTO

Desapareceu ao fundo da rua
A lua havia saído já.
Um pássaro mexeu-se entre as árvores.
Uma história comum, simples.
Ninguém havia notado nada.
Entre os dois postes,
um grande charco de sangue.


ENUMERAÇÃO

A gente fica na rua, olha.
Os números sobre as portas não significam nada.
O carpinteiro está martelando um prego sobre uma mesa larga
                e estreita.
Alguém prega uma lista de nomes no poste de telégrafo.
Um pedaço de jornal vibra, preso nos espinhos.
As aranhas estão debaixo das folhas de videira.
Uma mulher sai de uma casa para entrar em outra.
A parede amarela e úmida; se descama
Na janela do homem morto, uma gaiola com um canário.

* Traduções de Pedro Fernandes a partir da publicação espanhola "Colección Antológica de Poesía Social"