AVENTURA GALANTE E A VENTURA
Odor della feminità.
Eu faço o ponto, quando belo vai o dia,
Para a passante que, com satisfação,
À ponta da sombrinha me fisgaria
O piscar da pupila, a pele do coração.
E acho que estou feliz – um pouco – é a vida:
O mendigo distrai a fome na bebida…
Um belo dia – triste ofício! – eu, assim,
– Ofício!.. – velejava. Ela passou por mim.
– Ela quem? – A Passante! E a sombrinha também!
Lacaio de carrasco, toquei-a… – porém,
Contendo um sorriso, Ela espiou meus botões
E… estendeu-me a mão, e…
me deu uns tostões.
Eu faço o ponto, quando belo vai o dia,
Para a passante que, com satisfação,
À ponta da sombrinha me fisgaria
O piscar da pupila, a pele do coração.
E acho que estou feliz – um pouco – é a vida:
O mendigo distrai a fome na bebida…
Um belo dia – triste ofício! – eu, assim,
– Ofício!.. – velejava. Ela passou por mim.
– Ela quem? – A Passante! E a sombrinha também!
Lacaio de carrasco, toquei-a… – porém,
Contendo um sorriso, Ela espiou meus botões
E… estendeu-me a mão, e…
me deu uns tostões.
DESENCORAJOSO
Foi um poeta verdadeiro: Não tinha canto.
Morto: ele amava o dia e desdenhava o pranto.
Pintor: ele não pintava, esquecido que era…
Ele via muito – e ver é uma cegueira.
– Sonhador: habitava o sonho, que se esvai,
Sem ir com ele às nuvens, de onde se cai,
Sem abrir seu personagem e buscar-se dentro.
– Puro herói de romance: ele adorava a loura
Bruma ao sol que amorena, e a lua que nos doura…
Mas não amava nunca – Ele não tinha tempo. –
– Explorador incansável: Remos a remar
Cá embaixo ele via, do alto de seu olhar,
Lasso de piedade pelas boas remadas…
Mineiro das idéias: tocava a fronte espessa,
Para coçar uma espinha ou coçar a cabeça
Em seu trabalho – Fazer nada. –
– Falava: “Sim, a Musa é estéril! é filha
De amor, ociosidade, prostituição;
Não deformem a moça em ventre de família
Que cobre o garanhão para a reprodução!
“Entornem a massa, pedreiros das idéias!
Vocês que, amados por seu capricho insensato,
–Tudo é vaidade! –, quando o dia clareia,
Mostram-na com alarde aos olhos dos beatos!
“Ele acariciava, como se afoga um gato,
E vocês prenderam sua asa ou seu véu,
Orgulhosos de empunhar a pluma do pato,
Ou pó-de-mico, para agitar o pincel!”
– Ele dizia: “Ó florinha! Ingênuo Oceano!
Não creiam que nos faltem pintores e poetas!…
O vidraceiro pinta! e tem por sucedâneo
Um cego que canta raspando a palheta,
Ou um cego que pinta com a clarineta!
–É isso a arte?…”
– Restou-lhe no Sublime Besta
Morto: ele amava o dia e desdenhava o pranto.
Pintor: ele não pintava, esquecido que era…
Ele via muito – e ver é uma cegueira.
– Sonhador: habitava o sonho, que se esvai,
Sem ir com ele às nuvens, de onde se cai,
Sem abrir seu personagem e buscar-se dentro.
– Puro herói de romance: ele adorava a loura
Bruma ao sol que amorena, e a lua que nos doura…
Mas não amava nunca – Ele não tinha tempo. –
– Explorador incansável: Remos a remar
Cá embaixo ele via, do alto de seu olhar,
Lasso de piedade pelas boas remadas…
Mineiro das idéias: tocava a fronte espessa,
Para coçar uma espinha ou coçar a cabeça
Em seu trabalho – Fazer nada. –
– Falava: “Sim, a Musa é estéril! é filha
De amor, ociosidade, prostituição;
Não deformem a moça em ventre de família
Que cobre o garanhão para a reprodução!
“Entornem a massa, pedreiros das idéias!
Vocês que, amados por seu capricho insensato,
–Tudo é vaidade! –, quando o dia clareia,
Mostram-na com alarde aos olhos dos beatos!
“Ele acariciava, como se afoga um gato,
E vocês prenderam sua asa ou seu véu,
Orgulhosos de empunhar a pluma do pato,
Ou pó-de-mico, para agitar o pincel!”
– Ele dizia: “Ó florinha! Ingênuo Oceano!
Não creiam que nos faltem pintores e poetas!…
O vidraceiro pinta! e tem por sucedâneo
Um cego que canta raspando a palheta,
Ou um cego que pinta com a clarineta!
–É isso a arte?…”
– Restou-lhe no Sublime Besta
Afogar o orgulho vazio e a virgindade.
* Tradução de Marcos Antônio Siscar
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