CANÇÃO PARA GUITARRA
Eu
Estou nas palavras
Tão morbidamente
Mudo:
Minhas sentenças são
Máscaras.
E –
Falo
A vós todos –
– Falo
Fábulas –,
– Porque –
Assim me foi designado,
A razão –
Não a entendo –
– Porque –
Há tempos tudo se foi no escuro,
Porque – tudo é igual:
Estou nas palavras
Tão morbidamente
Mudo:
Minhas sentenças são
Máscaras.
E –
Falo
A vós todos –
– Falo
Fábulas –,
– Porque –
Assim me foi designado,
A razão –
Não a entendo –
– Porque –
Há tempos tudo se foi no escuro,
Porque – tudo é igual:
Quer eu
Saiba ou não saiba.
Porque só há tédio em toda parte,
Porque a fábula é de esmeralda,
Onde –
Tudo é outro.
Porque há esta avidez dos borrifos
Do prazer;
Porque a difícil
Existência
Para todos
– Tem um só desenlace.
Porque –
– Em suma –,
– Para que
Este inferno?
Porque –
– Para todos
Há um só fim.
E me rompe este riso
Do
Destino
De todos –
– E –
– De
Mim.
Saiba ou não saiba.
Porque só há tédio em toda parte,
Porque a fábula é de esmeralda,
Onde –
Tudo é outro.
Porque há esta avidez dos borrifos
Do prazer;
Porque a difícil
Existência
Para todos
– Tem um só desenlace.
Porque –
– Em suma –,
– Para que
Este inferno?
Porque –
– Para todos
Há um só fim.
E me rompe este riso
Do
Destino
De todos –
– E –
– De
Mim.
(1922)
No
Vale
Uma vez
Em sonho
Vale
Uma vez
Em sonho
Ante
Vós
Eu, –
Vós
Eu,
Velho
Tolo –,
Tolo
A
Tocar
Mandolina.
Tocar
Mandolina.
Vós
Ouvíeis
Atento.
Ouvíeis
Atento.
E –
– O Antigo Zodíaco.
– O Antigo Zodíaco.
Um dia
Surraram-me
E
Me
Expulsaram
Do
Circo
Surraram-me
E
Me
Expulsaram
Do
Circo
Em
Farrapos
E
Em
Sangue,
A clamar –
– Por Deus!
– Deus!
– Deus!
Farrapos
E
Em
Sangue,
A clamar –
– Por Deus!
– Deus!
– Deus!
E
Pelo –
– Amor
universal.
Vós
Por acaso
Encontrastes
O palhaço
Cantante.
Por acaso
Encontrastes
O palhaço
Cantante.
Parastes
Para escutar
O canto.
Para escutar
O canto.
Vós –
Observastes
Observastes
O barrete
De bufão.
De bufão.
Vós –
Dissestes
Dissestes
Convicto:
– “Este
É o caminho
Da iniciação...”
É o caminho
Da iniciação...”
Vós –
Em sonho
Mirastes
Em sonho
Mirastes
O –
– Zodíaco.
– Zodíaco.
(1915)
* Tradução de Augusto de Campos
A PALAVRA
Na febre de
som
Do sopro
A trave é flama-fala.
Do sopro
A trave é flama-fala.
Lá fugindo
da laringe,
A terra exala.
A terra exala.
Expiram
As almas
Das palavras não-compostas.
As almas
Das palavras não-compostas.
Deposita-se
a crosta
Dos mundos que nos portam.
Dos mundos que nos portam.
Sobre o
mundo formado
Paira a profundidade
Das palavras proferíveis.
Paira a profundidade
Das palavras proferíveis.
Profundamente
ora
A palavra das palavras, Sarça viva.
A palavra das palavras, Sarça viva.
E do futuro
Paraíso
Alça-se a serra adunca
Paraíso
Alça-se a serra adunca
Por onde em
chamas, consumido,
Não passarei: nunca.
Não passarei: nunca.
(1917)
* Tradução de Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman
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