segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Dois poemas de Marina Tsvetáieva



VERSOS A BLOK 

Na mão – um pássaro que cala,
Teu nome – pedra de gelo na fala.
Um movimento de lábios, só.
Teu nome – quatro sons.
Uma bola em vôo apanhada,
Um guizo na boca, de prata.

Um seixo, atirado num lago calmo,
Soluça assim, como te clamo.
Ao leve tropel do casco noturno
Alto teu nome responde.
E o gatilho a estalar soturno
Lembra-o, em nossa fonte.

Teu nome – ah, não consigo!
Teu nome – um beijo no ouvido.
No gelo morno de pálpebras rígidas,
Da neve é o beijo no mundo.
É um gole de fonte, azul e frigido.
Em teu nome, o sono é profundo.

15 de abril de 1916

* Tradução de  Aurora F. Bernardini


A CARTA

Assim não se esperam cartas.
Assim se espera - a carta.
Pedaço de papel
Com uma borda
De cola. Dentro – uma palavra
Apenas. Isto é tudo.

Assim não se espera o bem.
Assim se espera – o fim:
Salva de soldados,
No peito – três quartos
De chumbo. Céu vermelho.
E só. Isto é tudo.

Felicidade? E a idade?
A flor – floriu.
Quadrado do pátio:
Bocas de fuzil.
(Quadrado da carta:
Tinta, tanto!)
Para o sono da morte
Viver é bastante.
Quadrado da carta.

* Tradução de Augusto de Campos



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