segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Um poema de Adam Púsloitch



SÓ A MORTE ESTÁ EM TODA A PARTE, COMO UMA ESPÉCIE DE AMOR

Desperto com os olhos.
Desperto com o grito de minha mãe.
Desperto com os dias e com as noites.
Despertam-me no norte, acordo no sul,
Desperto ao esmagar o meu sonho com as mãos.
Nas mãos do pai, sangrento
Desperto com as profundezas, com a treva, com a luz.
Um vidro no monte de lixo reluz.
E eu desperto com isso.
No escuro seio do bosque tomba um tronco
e eu desperto de imediato.
Desperto com milhares de anos brilhantes
E desperto de uma só vez.
Desperto com as mãos cruzadas.
Desperto com os sonhos alheios.
Desperto em segredo diante dos deuses.
Desperto durante os gritos da aurora e durante os ruídos do poente.
Desperto com o Tigre e com o Eufrates.
Desperto com oceano.
E também desperto quando já estou desperto.
Todo o cosmo me desperta.
Só há futuro em estar desperto.
E somente a morte está em toda a parte, como um ramo de amor.


* Tradução e notas de Aleksandar Jovanovic

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