segunda-feira, 1 de maio de 2017

Cinco poemas de Maria Teresa Horta



JOELHO

Ponho um beijo
demorado
no topo do teu joelho

Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio

Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo

Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo

Em torno um mar
tão revolto
no cume o cimo do tempo

E os lençóis desalinhados
como se fosse
de vento

Volto então ao teu
joelho
entreabrindo-te as pernas

Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas.


EXERCÍCIO

Exercícios do teu corpo
oculto
na sua roupa

adivinho-te a dureza
o movimento sedento
a macieza da boca

adivinho o teu carinho
na sede dos meus
joelhos

adivinho o teu
desejo
sobre a pele dos meus seios


QUOTIDIANO

Tu permites que eu vá
mas também me reténs
tentando seguir a minha falta

Imaginava que fujo enquanto me tens
e supões-me estar perto
quando afinal já parto

Tu ficas atento, inventas passagens
contas pelos dedos
tudo aquilo que faço

E quando me disfarço fechas os olhos
àquilo que importa
Finges que não sabes
abres a janela e trancas-me a porta


SEM PRESSA

Jamais apresso nada
no amor
Gosto que dure mais
a cada hora

Ter e esquecê-lo
recusá-lo e inventá-lo
fora

Jamais empurro nada
no amor
Ontem como foi
muito melhor agora

Desdizê-lo e desejá-lo
a cada passo,
fazê-lo deitar comigo e possuí-lo
Atá-lo ao meu corpo num abraço


FOGO

Despe-me o vestido
pela cabeça
até ao cimo da nudez
e ainda
desce mais as mãos pelo meu corpo

Apaga esse fogo
que absorto
me consome devagar até a cinza