segunda-feira, 26 de junho de 2017

Dois poemas de Ana Carolina Vaz



O DIA ESQUECIDO

Um dia, pela manhã
Passearei no jardim que dá para o nevoeiro.

Hoje não!
Que tenho pressa
E gente esperando por mim no alto das escadas.

Hoje não!
Que tenho o dia preenchido
De olhos inquisidores, mão de veludo, palavras vagas.

Hoje não!
Que tenho o dia
Mil vezes suicida
Com eléctricos, deveras, gente perdida.

Um dia...
Pela manhã!


MENINO TONTO

Menino tonto...
que desenha as mãos dos homens como se fossem garras

E para quem os sinos
nasceram um dia com olhos
(Quem sabe lá se os sinos têm olhos?!...)

Menino tonto...
que desenha bonecos transparentes
para lá de si próprio.

Menino tonto..,
que tem uma lágrima longa guardada
para lá da loucura.

Menino tonto...
Dos carros tenebrosos com rodas erguidas em todos os sentidos
e do mar de ondas negras do lápis que ontem pediu à mãe...

Menino tonto...
dos barcos à vela
com uma estrela pendurada.
Menino tonto... Ó meu menino tonto!
Vamos por outra estrela na amaruda?