segunda-feira, 17 de julho de 2017

Um poema de Mario Vargas Llosa



POEMA PARA A EXORCISTA

A minha vida aparece sem condão e
monótona
aos que me vêem
no trabalho árduo da oficina
em manhãs apuradas.
A verdade é muito distinta.
Cada noite eu saio e discuto
contra um espírito malévolo
que, se valendo de
máscaras - cão, grilo,
nuvem, chuva, vagabundo,
ladrão - trata de
se infiltrar na cidade
para estragar a vida humana
semeando
a discórdia.
Apesar dos seus disfarces
sempre a descubro
e a espanto.
Nunca conseguiu enganar-me
nem vencer-me.
Graças a mim, nesta cidade
ainda é possível
a felicidade.
Mas os combates nocturnos
deixam-me exausta e ferida.
E para compensar a minha
guerra contra o inimigo,
peço uns restos
de afecto e de amizade.

Nova York, novembro de 2001

Mario Vargas Llosa nasceu a 28 de março de 1936, em Arequipa, Peru. Um dos mais importantes romancistas do entre-séculos XX-XXI, reconhecido e premiado por certames de variado peso, incluindo o Prêmio Nobel de Literatura em 2010. Autor de vasta obra e pela poesia cuidou de alguns exercícios, raros aos olhos públicos. 

* Tradução de Pedro Calouste.