segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Três poemas de Jules Laforgue



MEDIOCRIDADE

No infinito coberto de eternas belezas,
Como átomo perdido, incerto, solitário,
Um planeta chamado Terra, dias contados,
Voa com os seus vermes sobre as profundezas.

Filhos sem cor, febris, ao jugo do trabalho,
Marchando, indiferentes ao grande mistério,
E quando um dos seus é enterrado, já sérios,
Saudam-no. Do torpor não são arrancados.

Viver, morrer, sem desconfiar da história
Do globo, sua miséria em eterna glória,
Sua agonia futura, o sol moribundo.

Vertigens de universo, todo o seu só festa!
Nada, nada, terão visto. Partem do mundo
Sem visitar sequer o seu próprio planeta.


LOCUÇÕES DO PIERROT XII

Mais outro livro ; ó nostalgias
Longe de todo este gentio,
Do tal dinheiro e do elogio,
Bem longe das fraseologias!

De novo um dos meus pierrots morto;
Daquele crônico orfelismo,
Coração pleno de dandismo
Lunar em um estranho corpo.

Nossos deuses se vão; sem cura,
Os dias, de mal a pior,
Já fiz o meu tempo. É melhor
Sim, entregar-se à Sinecura!


LAMENTO DA BOA DEFUNTA

Pela avenida ela fugia,
Iluminada eu a seguia,
Adivinhei! O olho dizia,
Hélas! Eu a reconhecia!

Iluminada eu a seguia,
Boca ingênua, nada via,
Oh! sim eu a reconhecia,
Ou sonhaborto ela seria?

Boca murcha, olho-fantasia;
Branco cravo, azul esvaía;
O sonhaborto amanhecia!
Ela em morta se convertia.

Jaz, cravo, de azul esvaía,
A vida humana prosseguia
Sem ti, defunta em demasia.
– Oh! já em casa, boca vazia!

Claro, eu não a conhecia.

* Tradução Régis Bonvicino