segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Três poemas de Mark Strand



CONQUISTA DO FILÓSOFO

O melancólico instante persiste,
E o oráculo depois da porta,
Sempre a torre, o barco, o trem distante.
Num lugar ao Sul matam um Duque,
Uma guerra se ganha. Aqui é muito tarde.

O melancólico instante persiste.
Aqui, uma tarde de outono sem chuva,
Num balaio, apenas duas alcachofras;
Sempre a torre, o barco, o trem distante.
Volta a doer a infância nesta cena?
Por que nesse relógio são 1 e 28?

O melancólico instante persiste.
Reino de mor: sua luz verde-amarela
Cai sobre a angústia do destino;
Sempre a torre, o bote, o trem distante.
Quer nossa visão que retenhamos
O peso intolerável destas coisas.

O melancólico instante persiste,
Sempre a torre, o bote, o trem distante.


PRESERVAR INTACTAS AS COISAS

Num campo
sou ausência
de campo.
Sempre
é assim.
Onde quer que esteja
sou o que falta.

Ao caminhar
separo o ar
e o ar
preenche sempre
os vazios
onde meu corpo esteve.

Todos temos razões
para nos mover.
Eu me movo
para preservar intactas as coisas.


MEU FILHO

À maneira de Carlos Drummond de Andrade

Meu filho,
meu único filho,
o que nunca tive,
seria hoje um homem.

Move-se
no vento,
sem nome nem carne.
Às vezes

vem
e apoia a cabeça,
mais leve que o ar,
em meu ombro

e lhe pergunto:
Filho
onde estás?
onde te escondes?

E me responde
com alento frio,
nunca ouviste
quando te chamei

e chamei
e continuei chamando-te
de um lugar
mais além
muito além do amor,
onde tudo
onde nada

quer nascer.

Mark Strand nasceu a 11 de abril de 1934 em Summerside, Canadá. Eleito integrante da Academia Americana de Artes de Letras em 1981, foi um dos mais importantes nomes da poesia no país do qual adotou sua nacionalidade. Em 1999, por exemplo, recebeu o Prêmio Pulitzer de Poesia pelo livro Bizzard of One: Poems. Também se destacou na escrita em prosa (contos, livros para criança e ensaios sobre criação poética e artes plásticas). Strand morreu em Nova York a 29 de novembro de 2014. 


* Traduções de Pedro Fernandes de Oliveira Neto