segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Edição n.15 da Revista 7faces está online



Em 2018, regularemos as edições semestrais da Revista 7faces. Por isso, o leitor que já for atento ao nosso trabalho redobre sua atenção: serão três edições até o final do ano – todas em processo de finalização. A primeira delas chega online agora, neste dia 29 de janeiro. É a de n.15. Homenageia o poeta português Eugénio de Andrade, reconhecidamente um dos mais importantes nomes da poesia de língua portuguesa contemporânea.

No editorial “Da maneira mais simples, outros ritmos, outros modos”, título construído com dois títulos de dois poemas de Eugénio de Andrade, Pedro Fernandes, editor da Revista 7faces, sublinha que a poética do poeta inaugura “um universo particular cujo interesse é favorecer uma revelação do mundo, desde sua forma mais simples à mais complexa, aquela capaz de não ser justificada pela mera força antagônica com que fomos levados a forjar o mundo”.

A homenagem a Eugénio de Andrade é marcada por um rico dossiê que inclui fotografias, reprodução de manuscritos, poemas e ensaios de leitores versados no estudo da obra do poeta Prêmio Camões: Gabriel José Innocentini Hayashi, Paulo Brás, Maria Vaz, Maria João Reynaud, Paula Mendonça e Tânia Ardito.

A novidade nesta edição é a inauguração da seção “Memória”, nascida de uma recorrência já marcada em números anteriores. Nela se publicam textos que circularam noutra mídia e já agora estão fora de circulação embora não tenham perdido a relevância para a leitura crítica da obra do poeta homenageado. No caso da edição em questão reproduzimos um texto do Professor Óscar Lopes que está em Uma espécie de Música (A poesia de Eugénio de Andrade), editado na coleção de Estados Portugueses (Imprensa Nacional / Casa da Moeda, 1980) é há muito fora de circulação em Portugal e ainda inédito no Brasil: “Morte e ressurreição dos mitos na poesia de Eugénio de Andrade”.

Completa a edição, dois cadernos de poesia, com rica incursão pela cena poética portuguesa atual, dentre os poetas brasileiros: Carla Valente, Clara Baccarin, Custódia Pereira, Helena Loza, Joaquim Cardoso Dias, Laryssa Costa, Lucas Repetto, Manuel Pintor, Sandra Fonseca Matias, Susana Canais, Alberto Arecchi, Carla Carbatti, Marcelo Grisa, Maria Vaz e Pablo Bruno de Paula dos Santos.

Tudo disponível online no site da Revista 7faces.


segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Os nomes da edição n.15 da Revista 7faces

Foto: Alfredo Cunha 

Quando apresentamos nosso cartão de boas festas no final de 2017 em nossa página no Facebook – e depois repetimos em nosso Twitter –, dissemos que a próxima edição da Revista 7faces sairia com homenagem à obra de Eugénio de Andrade. O poeta português é autor de uma vasta obra que o coloca entre os maiores nomes da poesia de língua portuguesa contemporânea. Reconhecimento que é corroborado pela entrega do Prêmio Camões em 2001.

A edição é organizada com a extensa colaboração do poeta português Pedro Belo Clara que seleciona os ensaios e os poetas aí publicados; neste novo número são eles: Carla Valente, Clara Baccarin, Custódia Pereira, Helena Loza, Joaquim Cardoso Dias, Laryssa Costa, Lucas Repetto, Manuel Pintor, Sandra Fonseca Matias, Susana Canais, Alberto Arecchi, Carla Carbatti, Marcelo Grisa, Maria Vaz e Pablo Bruno de Paula dos Santos.

Leia poemas de Eugénio de Andrade aqui.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Três poemas de Hugo Padeletti




LUZ NEGRA

O coração sangrento
do Abismo,
o Olho que decide os destinos
escravos,
esculpiu seu templo no fundo
do fundo da luz.
Está sentado
para sempre no trono
de si mesmo,
cujo recinto real, livre
de todo servilismo
é sempre, sempre, sempre o mesmo Abismo

de luz negra.


POUCAS COISAS

A Haydée e Juan Grela

e sentido comum
e a jarra de louça, graciosa,
com o ramo
resplandecente.

A difícil
extração do sentido
é simples:

o ato claro
no momento claro
e poucas coisas
verde
sobre branco.


AGORA SOU UM OLHO

Agora sou um olho
imóvel no céu,
uma nostalgia sem eu
que forma nuvens no céu.

Agora sou a imagem do quadro, sobre fundo
de vermelho sombrio,
o olhar perdido em insondável dignidade,
reclinado num marco de ouro.

Amanhã terei caído
num poço de sangue,
numa velha armadilha familiar,
terei me enredado entre os fatos.

Amanhã terei me rebaixado até num tapete
desgastado,
até o pó que acende os desejos,
até a culpa.


Hugo Padeletti nasceu em Alcorta no dia 15 de janeiro de 1928. Os anos vividos nesse ambiente rural impregnaram logo seus poemas, atentos à passagem das estações do ano, à natureza e “à paixão delicada embora firme do real”, como escreveu Juan José Saer. Publicou seu primeiro livro de poesia aos trinta anos e a partir de então desenvolveu uma das obras poéticas mais sólidas, sábias e belas da literatura argentina. A criação plástica cresceu acompanhada a vários de seus livros, como La atención (1999), em que os textos aparecem acompanhados pela obra gráfica. No início dos anos 1960 viajou a Berna com bolsa de estudos para estudar a obra de Paul Klee; foi nomeado diretor do Museu de Belas Artes Rosa Galisteo de Rodríguez, situado na capital de sua província natal. Radicado desde 1984 na cidade de Buenos Aires, em 1989 publicou Poemas 1960-1980, antologia com a qual obteve o Prêmio Boris Vian; em 1990 publicou Parlamentos del viento; Apuntamientos en al Ashram no ano seguinte. A partir de então aspectos de diferentes religiões orientais e ocidentais, como a culpa, o perdão e a graça ganharam parte na sua obra. Publicou ainda outros títulos como Plancton (1998) e Canción de viejo (2003). Morreu em 12 de janeiro de 2018.

* Traduções de Pedro Fernandes de O. Neto