segunda-feira, 2 de julho de 2018

Dois poemas de Mark Doty





PEQUENO MAMUTE

O leite de minha mãe na minha pança

e um pouquinho de merda também,
para que eu possa comer

as ácidas estepes verdes
que se abriam infinitamente

ante mim, e não acabava
deslizei para a luz sol e na

pradaria do mundo quando outra vez

escorreguei neste lamaçal,

e gritei, e gritando
sorvi argila por minha tromba

até fazer cair para fundo do buraco,
meus dentes de leite ainda até

aparecer, uma já suave penugem
de gordura para meu primeiro 
inverno,

e só tenho um mês de vida, e
quarenta mil anos sem 
minha mãe.


*

Grandes blocos de gelo
– nítidas pedras angulares –
caem em bando móvel

até as de um feroz
ventilador giratório; estrépito em rotação
de mil patins e logo

as partículas saem voando ruidosas
pela mangueira num jorro de pó brilhante,
e a equipe de filmagem escurece

a bem usada neve de Manhattan
com uma réplica da neve.


Mark Doty nasceu em Maryville em 10 de agosto de 1953. Estudou na Drake University em Des Moines, Iowa e especializou-se em escrita criativa no Goddard College, Vermont. Uma de suas obras mais marcantes é Atlantis, publicada em 1994, e dedicada ao seu companheiro Wally Roberts que morreu no mesmo ano. É o primeiro poeta estadunidense a receber o Prêmio T. S. Eliot. É professor de escrita criativa na Universidade de Houston.


* Traduções de Pedro Fernandes de O. Neto

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