sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Edição n.17 da Revista 7faces está online





"Às vésperas do centenário do seu primeiro livro de poemas, o Livro de Mágoas, de 1919, qual retrato pode-se apreender hoje de Florbela?" A pergunta está no editorial da edição 17 da 7faces que rende homenagem ao trabalho literário de Florbela Espanca. Jonas Leite, o autor do texto e um dos organizadores deste número do periódico, não oferece já a entrada uma resposta para esta pergunta, afinal a possível elaboração de um retrato da poeta portuguesa só é dado pelas leituras que se seguem: por Elina Luiza dos Santos, Isa Margarida Vitória Severino, Michelle Vasconcelos Oliveira do Nascimento, Maria Lúcia Dal Farra, Clêuma de Carvalho Magalhães, Fabio Mario da Silva, Andreia de Lima Andrade, Chris Gerry e Iracema Goor Xavier. Mas, a pergunta do editorialista, é bom que se diga, é infinita.

Além dos textos de figuras singulares nos estudos da obra de Florbela Espanca, o n. 17 da revista reúne poemas de Franco Bordino, Daniel Jonas, Lucas Grosso, Augusto de Sousa, Juan Manuel Palomino Domínguez, Carolina Pazos, Tibério Júlio de Albuquerque Bastos, Rebeca Rose dos Santos Leandro, Nathalia Catarina, Alaor Rocha, Paulo Emílio Azevedo e Moira Marques Portugal. Sobre os dois primeiros nomes é necessário sublinha duas coisas:

1. Franco Bordino foi o vencedor do importante prêmio literário oferecido pela instituição espanhola Casa de las Américas; o poeta recebeu o galardão pelo seu livro de estreia, feito razoavelmente inédito na história das premiações. Seu livro, Los primeros indicios, figura, assim, entre os melhores títulos de poesia de 2018, publicados em língua espanhola. Foi lido pelo júri como uma obra muito próxima a toda uma tradição poética que remete a Jorge Luis Borges. Os quatro poemas deste poemário enviados pelo poeta foram traduzidos por Pedro Fernandes de Oliveira Neto, editor da 7faces.

2. Daniel Jonas é já um poeta que em Portugal dispensa apresentações; com uma variedade de títulos publicada e uma lista considerável de prêmios que tem recebido por sua obra, é a primeira vez que muitos desde lado do Atlântico leem seu nome e alguns dos seus poemas. Em breve terão mais que isso: é que os poemas apresentados neste número foram selecionados a partir da antologia Os fantasmas inquilinos organizada por Mariano Marovatto e publicada pela Editora Todavia. Registre-se o feito em maneira de agradecimento ao organizador desta importante edição e ao seu editor Leandro Sarmatz pela parceria brilhante.

O site da revista onde se pode encontrar esta e outras edições é este.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Três poemas de Vasko Popa




Repadeira

Filha mais doce
Do verde sol subterrâneo
Fugiria
Da barba branca da parede
Se ergueria em plena praça
Vórtice envolto em sua beleza
Com sua dança-de-serpente
Fascinaria tempestades
Mas o ar de amplas espáduas
Não lhe estende as mãos


Aula de poesia

Sentamos no banco alvo 
Sob o busto de Lenau

Nos beijamos
E de passagem falamos
Sobre versos

Falamos sobre versos
E de passagem nos beijamos

O poeta vê algo através de nós
No banco alvo
No pedregulho do caminho

E silencia
Com seus belos lábios de bronze

No Parque da cidade de Vrchatz
Aprendo lentamente
O cerne da poesia


Crítica da poesia

Depois da leitura de poemas 
No serão literário da fábrica
Começa o diálogo

Um ouvinte ruivo
De face marcada por manchas solares
Ergue dois dedos

Camaradas poetas

Se eu lhes versificasse
Toda a minha vida
O papel ficaria rubro

E pegaria fogo

Vasko Popa nasceu em 29 de junho de 1922, em Grébenatz, na Sérvia. Parte dos títulos que publicou são Casca (1953), O campo do desassossego (1956), Paracéu (1968), A terra ereta (1972), Sal lupinoCarne viva e A casa do meio do caminho (três obras do mesmo ano, 1975) e Corte (1981). Morreu em 5 de janeiro de 1991.

* As traduções são de Aleksandar Jovanovic

sábado, 8 de dezembro de 2018

Os nomes da edição n. 17 da Revista 7faces



No dia 8 de dezembro de 1894, nasceu em Vila Viçosa, a poeta Florbela Espanca. No mesmo dia, 36 anos depois, em Matosinhos, sabe-se da sua morte. A vida tão breve foi marcada pela intensidade com que experimentou os arroubos por ela oferecidos: os amores e as dores, a criatividade, a dedicação ao literário, tudo foi vivido no máximo grau de expressão. Continuamente, a obra da poeta portuguesa tem sido matéria criativa para todas as gerações futuras desde quando se opera seu reconhecimento, tardio, mas expressivo. 

Em junho de 2019, passam-se os 100 anos da publicação do primeiro livro de Florbela Espanca. Livro de mágoas é singular na bibliografia breve da poeta porque assinala o talento criativo e poético da então jovem que frequenta o curso de Direito em Lisboa. Foram duzentos exemplares, custeados pelo pai, e editados por um amigo, que, apesar de logo vendidos, não significou merecerem a atenção justa da crítica que se apressou em classificar como emulação gratuita de António Nobre. 

Juntando a efeméride, uma maneira de não deixar a memória passar em branco o que não deve ser passado em branco, e inserindo-se entre as atividades criativas que ampliam o universo de Florbela é que a revista 7faces se antecipa na publicação deste número em homenagem à sua obra; não apenas ao livro de 1919, mas aos demais títulos que projetou ou publicou em vida e àqueles que foram conhecidos mais tarde graças a atenção da crítica, que a ver pelo passar dos anos, já se redimiu integralmente do silêncio surdo ou do julgamento taxativo em torno da poeta portuguesa.

O n.17 da revista 7faces chega online por esses dias. É organizada pelo estudioso da obra de Florbela, o professor Jonas Leite, quem reuniu um grupo importantíssimo da crítica brasileira e estrangeira que se desdobra a investigar lugares e elementos diversos da diversa obra da poeta. 

Além disso, foram selecionados para compor esta edição os trabalhos dos poetas Franco Bordino,  Daniel Jonas, Lucas Grosso, Augusto de Sousa, Juan Manuel Palomino Domínguez, Carolina Pazos, Tibério Júlio de Albuquerque Bastos, Rebeca Rose dos Santos Leandro, Nathalia Catarina, Alaor Rocha, Paulo Emílio Azevedo e Moira Marques Portugal.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Seis poemas de Yosano Akiko


1.
cabelos negros
são mil longos cabelos
descabelados
mente    descabelada
descabelada    mente

2.
aqui agora
paro     para recordar
da minha paixão
sem medo da escuridão
eu vivi   como um cego

3.
ouço o poema
como negar o carmim
da flor do campo?
delícias      a         menina
pecar        na     primavera

4.
lá    mergulhada
no fundo da nascente
a flor   de lírio
corpo de vinte verões
vejo assim tão bonito

5.
para castigar
os homens por todos seus
pecados          herdei
a pela     transparente
longos pelos corvinos

6.
nos dois países
da primavera e do amor
pra mim    aurora
há luz    em meus cabelos?
óleo    da flor de ameixa



Yosano Akiko nasceu em 7 de dezembro de 1878, em Osaka. Distingue-se desde o início de sua produção literária como uma das figuras mais inovadoras da literatura japonesa. Sua obra também é habitada por uma forte consciência feminista. A poeta morreu em 29 de maio de 1942. 


* Traduções de Donatella Natili e Álvaro Faleiros apresentadas em Descabelados.