segunda-feira, 5 de março de 2018

Um poema de William Wordsworth



SOMOS SETE

Simples criança,
Que o alento a vida verte,
A cada membro a cada crença,
Que saberia ela sobre a morte?

Vi uma Menina lá nos prados;
Oito anos me disse ter;
E seus cabelos cacheados
O rosto estavam a lhe envolver.

Do jeito tosco do interior,
Usava a roupa em desalinho:
Os olhos lindos, cheios de fulgor
À sua beleza ri sozinho.

"Irmãos e irmãs, cara Menina,
Quantos sois?" Lhe disse assim.
"Quantos? Sete", nossa sina
Falou olhando para mim.

"Onde estão?" Lhe perguntei.
"Sete ao todo a vagar;
Dois em Conway, sim eu sei,
E dois que foram para o mar."

"Dois de nós, na tumba lá estão,
Junto à igreja e a casinha.
Minha irmã e meu irmão;
Fiquei com eles e a mãezinha."

"Disseste, em Conway estão dois,
E dois foram para o mar,
Pois fala, - Se sete então sois,
Menina, como isso vai ficar?"

Assim replicou a donzela,
"Sete ao todo somos;
Dois deitados lado à capela,
Ao pé da árvore os colocamos.

"Corres por aí, com alegria,
Estás bem viva, eu não brinco;
Se dois jazem junto à abadia
Então sois somente cinco."

"São verdes os túmulos, posso jurar",
Respondeu-me a jovem donzela,
"A doze passos de meu lar,
Lado a lado à capela.

Ali cirzo sem descanso
E me sento rente ao chão
Ali bordo o meu lenço
Canto a eles a canção.

"Sempre ao cair da tarde,
Quando está claro o luar,
Trago a tigela sem alarde
Ali faço meu jantar."

"Primeiro foi Jane, minha irmã;
Gemeu na cama horas a fio,
Deus livrou-a da dor numa manhã;
E assim ela partiu."

"Na selva deitaram ela;
E entre a grama do verão
Brincamos em torno à sua estela,
Eu e John, o meu irmão."

"Quanto tudo alveja com a neve,
Folgava a correr e deslizar
Meu irmão John teve vida breve,
Está a seu lado a deitar."

"Quantos sois?", continuei indeciso,
"Se dois estão no céu em louvor?"
E ela respondeu-me preciso:
"Somos sete, sim, senhor!

"Mas eles se foram, dois morreram!
Suas almas estão no paraíso!"
E isto de nada adiantava,
Pois ela jamais vacilava,
E dizia, "Somos sete!", num sorriso.


ESCRITO NA PONTE DE WESTMINSTER, A 3 DE SETEMBRO DE 1802 

Não tem a terra nada mais belo para mostrar 
Pobre de espírito seria aquele que pudesse ignorar 
esta visão tão comovente na sua majestade
Como um traje veste agora esta cidade 

a beleza da manhã. Silenciosas e nuas 
torres cúpulas navios teatros catedrais a prumo 
erguem-se no céu e estendem-se pelas ruas 
brilhantes e reluzentes no ar sem fumo 

Nunca o sol se ergueu com tanta alma 
por sobre vales rochedos e colinas 
nunca vi nunca senti uma tão profunda calma 

O rio desliza consoante o seu desejo 
Meu Deus o casario parece que dorme
Dorme também aquele coração enorme 



William Wordsworth nasceu em 7 de abril de 1770 em Cockermouth, Inglaterra. O poeta fez parte do movimento romântico inglês. Estudou na universidade de Cambridge e durante sua fase de estudante publicou seu soneto na The European Magazine. Em 1795 conheceu Coleridge e com sua colaboração escreveu e publicou  Lyrical Ballads. Era conhecido, juntamente com Coleridge, como "Lake Poets" por terem morado no Lake District. Em torno de 1798 começou a escrever um poema autobiográfico, que ficou pronto em 1805 e só foi publicado em 1850 após sua morte com o título The Prelude. Os trabalhos principais de Wordsworth foram produzidos entre 1797 e 1808. Seus últimos poemas não tiveram a mesma aprovação da crítica. No fim de seus dias, Wordsworth abandonou seus ideais radicais e se tornou patriota e conservador. Morreu em 23 de abril de 1850.


* Traduções de José Lino Grünewald