segunda-feira, 16 de abril de 2018

Dois poemas de Frank Bidart




CANÇÃO

Você sabe que é ali a toca
onde o urso por algum
tempo deixa de existir.

Entre. Afinal, você matou bastante e comeu
bastante para ficar gordo o bastante
e por algum tempo deixar de existir.

Entre. É preciso talento para viver à noite, e esconder
dos outros esse talento, mas agora você fareja
a temporada em que é preciso deixar de existir.

Entre. O que cresce dentro de você,
para o bem ou para o mal, exige que
por algum tempo você deixe de existir.

Não está chovendo lá dentro
esta noite. Você sabe que é lá. Rasteje e entre.


SONHO REVELA EM NEON OS GRANDES VÍCIOS
AMOR e seu simulacro, sexo.

As palavras, como uma fogueira em caixa
de vidro, reluziram no horizonte.

PODER e seu simulacro, dinheiro.

FAMA e seu simulacro, celebridade.

DEUS, sucedido
pelo que sobrevive à fé, o desejo de ser

Santo.

Semeia as tuas obsessões, elas são
os vícios que tentam tua alma.

Depois, vendo a palavra ARTE, acordei.


*
Recusaste amor, poder, fama, santidade, tua
tática, como a do modesto

César, é fingir indiferença e recusa.
És adicto do que não podes possuir.

Não sabes dizer
se os vícios, segredos, narcóticos

arruínam ou ampliam
a mente com a qual apreendes o mundo.

Frank Bidart nasceu na Califórnia em 27 de maio de 1939. Publicou extensa obra poética que combina poemas dramáticos longos com produções breves e elípticas baseadas na mitologia clássica, reinventando formas de desejos que desafiam as normas sociais. Três primeiros de seus títulos foram reunidos na antologia In the Western Night: Collected Poems. Em 2016 organiza Half-light: Collected Poems, que reúne os poemas desta antologia até as produções deste ano. Com esta obra recebeu o Prêmio Pulitzer de 2018.

* Traduções de Carlos Machado