segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Quatro poemas de Nelly Sachs




NESTA AMETISTA

Nesta ametista
estão sedimentadas as eras da noite
e uma prístina inteligência de luz
inflamou a amargura
ainda líquida
e chorou

Tua morte resplandece ainda
dura violeta


QUEM CHAMA?

Quem chama?
A própria voz!
Quem responde?
Morte!
A amizade naufraga
no bivaque do sono?
Sim!
Por que um galo não canta?
Ele espera até que o beijo do alecrim
flutue sobre as águas!

O que é isto?

O instante de desolação
do qual se desprendeu o tempo
morto de eternidade!

O que é isto?

Sono e morte não têm características


QUATRO DIAS QUATRO NOITES

Quatro dias quatro noites
teu esconderijo foi um caixão
sobreviver inspirou – e expirou –
para retardar a morte –
Entre quatro tábuas
jazia a dor do mundo –

Lá fora o minuto crescia pleno de flores
nuvens brincavam no céu –


É UM ESCURO COMO

É um escuro como
caos antes do verbo
Leonardo procurou esse escuro
por detrás do escuro
Jó estava envolto
no corpo materno dos astros
Alguém sacode a escuridão
até que a maçã Terra caia
madura no fim
Um suspiro
será isso a alma – ?

Nelly Sachs nasceu em Berlim em 10 de dezembro de 1891. Começou a escrever por volta dos dezessete anos. E publicou, dentre outras obras, In den Wohnungen de Todes (Nas moradas da morte), seu primeiro livro de poemas; Fahrt ins Staublose (Viagem para o sem pó), que reúne seis livros escritos durante vinte anos. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1966 juntamente com Shmuel Yosef Agnon. Morreu em Estocolmo em 12 de dezembro de 1970.

* Traduções de Carlos Fraga da Fonseca