segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Três poemas de Vasko Popa




Repadeira

Filha mais doce
Do verde sol subterrâneo
Fugiria
Da barba branca da parede
Se ergueria em plena praça
Vórtice envolto em sua beleza
Com sua dança-de-serpente
Fascinaria tempestades
Mas o ar de amplas espáduas
Não lhe estende as mãos


Aula de poesia

Sentamos no banco alvo 
Sob o busto de Lenau

Nos beijamos
E de passagem falamos
Sobre versos

Falamos sobre versos
E de passagem nos beijamos

O poeta vê algo através de nós
No banco alvo
No pedregulho do caminho

E silencia
Com seus belos lábios de bronze

No Parque da cidade de Vrchatz
Aprendo lentamente
O cerne da poesia


Crítica da poesia

Depois da leitura de poemas 
No serão literário da fábrica
Começa o diálogo

Um ouvinte ruivo
De face marcada por manchas solares
Ergue dois dedos

Camaradas poetas

Se eu lhes versificasse
Toda a minha vida
O papel ficaria rubro

E pegaria fogo

Vasko Popa nasceu em 29 de junho de 1922, em Grébenatz, na Sérvia. Parte dos títulos que publicou são Casca (1953), O campo do desassossego (1956), Paracéu (1968), A terra ereta (1972), Sal lupinoCarne viva e A casa do meio do caminho (três obras do mesmo ano, 1975) e Corte (1981). Morreu em 5 de janeiro de 1991.

* As traduções são de Aleksandar Jovanovic