segunda-feira, 24 de junho de 2019

Três poemas de Salvatore Quasimodo



TERRA

Noite, serenas sombras,
berço de ar,
chega-me o vento se por ti divago,
com ele o mar cheiros da terra
onde canta na praia minha gente
às velas, às nassas,
às crianças antes da aurora despertadas.

Montes secos, planícies de relva nova
que espera manadas e greges,
tenho dentro o vosso mal que me escava.


ESPELHO

E eis que do tronco 
rompem-se os brotos: 
um verde mais novo da relva 
que o coração acalma: 
o tronco parecia já morto, 
vergado no barranco.

E tudo me sabe a milagre; 
e eu sou aquela água de nuvens 
que hoje reflete nas poças 
mais azul seu pedaço de céu, 
aquele verde que se racha da casca 
e que tampouco ontem à noite existia.


SEM MEMÓRIA DE MORTE

A primavera desperta árvores e rios;
a voz profunda não ouço,
em ti perdido, amada.

Sem memória de morte,
unidos na carne,
as trombetas do último dia
nos despertam adolescentes.

Ninguém nos ouve:
o leve respirar do sangue!

Feita ramo
floresce em teu flanco
a minha mão.

De plantas pedras águas
nascem os animais
ao sopro do ar.

Salvatore Quasimodo nasceu em Módica, pequena cidade próximo de Siracusa, na Sicília, em 20 de agosto de 1901. Formado em Matemática e Engenharia, o ofício de poeta sempre foi exercido durante a primeira década nas horas vagas. Quando abandona a carreira de funcionário público constitui melhor aproximação com a poesia – passa a ser professor de literatura italiana em Milão. Integrou a Letteratura, revista oficial do movimento hermético – derivação do estilo nascido com o simbolismo francês e representado por nomes como Mallarmé e Valéry – do qual, em Itália, participaram nomes como Eugenio Montale de Giuseppe Ungaretti. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura 1959. Quasimodo morreu em 14 de junho de 1968 em Nápoles.

* Traduções de Geraldo Holanda Cavalcanti.


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