TERRA
Noite,
serenas sombras,
berço de ar,
chega-me o
vento se por ti divago,
com ele o
mar cheiros da terra
onde canta
na praia minha gente
às velas, às
nassas,
às crianças
antes da aurora despertadas.
Montes
secos, planícies de relva nova
que espera
manadas e greges,
tenho dentro
o vosso mal que me escava.
ESPELHO
E eis que do
tronco
rompem-se os
brotos:
um verde
mais novo da relva
que o
coração acalma:
o tronco
parecia já morto,
vergado no
barranco.
E tudo me
sabe a milagre;
e eu sou
aquela água de nuvens
que hoje
reflete nas poças
mais azul
seu pedaço de céu,
aquele verde
que se racha da casca
e que
tampouco ontem à noite existia.
SEM MEMÓRIA
DE MORTE
A primavera
desperta árvores e rios;
a voz
profunda não ouço,
em ti
perdido, amada.
Sem memória
de morte,
unidos na
carne,
as trombetas
do último dia
nos
despertam adolescentes.
Ninguém nos
ouve:
o leve
respirar do sangue!
Feita ramo
floresce em
teu flanco
a minha mão.
De plantas
pedras águas
nascem os
animais
ao sopro do
ar.
•
Salvatore Quasimodo
nasceu em Módica, pequena cidade próximo de Siracusa, na Sicília, em 20 de
agosto de 1901. Formado em Matemática e Engenharia, o ofício de poeta sempre
foi exercido durante a primeira década nas horas vagas. Quando abandona a
carreira de funcionário público constitui melhor aproximação com a poesia –
passa a ser professor de literatura italiana em Milão. Integrou a Letteratura,
revista oficial do movimento hermético – derivação do estilo nascido com o simbolismo
francês e representado por nomes como Mallarmé e Valéry – do qual, em Itália,
participaram nomes como Eugenio Montale de Giuseppe Ungaretti. Recebeu o Prêmio
Nobel de Literatura 1959. Quasimodo morreu em 14 de junho de 1968 em Nápoles.
* Traduções de Geraldo Holanda Cavalcanti.
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