Obsessão
Dentro de
mim canta intenso
Um cantar
que não é meu.
Cantar que
fica suspenso
Cantar que
já se perdeu.
Onde teria
eu ouvido
Essa voz
cantar assim?
– Já lhe
perdi o sentido,
Cantar que
passa, perdido,
Que não é
meu, estando em mim.
Depois,
sonâmbulo, sonho
Um sonho
lento, tristonho,
De nuvens a
esfiapar.
E novamente,
no sonho,
Volta de
novo a cantar.
Sobre um
lago onde, em sossego,
As águas
olham o céu,
Roça a asa
de um morcego…
E ao longe o
cantar morreu…
Onde teria
eu ouvido
Essa voz
cantar assim?
– Já lhe
perdi o sentido,
E esse
cenário partido
Volta a
voltar repetido,
E o cantar
recanta em mim…
Glória
Vive dentro
de mim um mundo raro
Tão vário, tão vibrante, tão profundo
Que o meu amor indómito e avaro
O oculto raivoso ao outro mundo
Tão vário, tão vibrante, tão profundo
Que o meu amor indómito e avaro
O oculto raivoso ao outro mundo
E nele vivo
audaz, ardentemente,
Sentindo consumir-se a sua chama
Que oscila e desce e sobe inquietamente;
Ouvindo a minha voz que por mim chama
Sentindo consumir-se a sua chama
Que oscila e desce e sobe inquietamente;
Ouvindo a minha voz que por mim chama
Em situações
grotescas que me ferem,
Ou conquistando o que meus olhos querem:
Príncipe ou Rei sonhando com domínios.
Ou conquistando o que meus olhos querem:
Príncipe ou Rei sonhando com domínios.
Sinto bem
que são vãs pra me prenderem
As mãos da Vida, muito embora imperem
Sobre a noção real dos meus declínios.
As mãos da Vida, muito embora imperem
Sobre a noção real dos meus declínios.
•
Francisco
Bugalho, nasceu no dia 26 de julho de 1905, no Porto. Estou direito em Coimbra,
onde conviveu com o grupo de escritores da revista Presença. Foi funcionário
no registo predial de Castelo de Vide, no Alentejo, onde viveu. Além da revista
de Coimbra colaborou com os Cadernos de poesia. Morreu no dia 29 de
janeiro de 1949.
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