segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Dois poemas de Sosígenes Costa




O pavão vermelho
Ora, a alegria, este pavão vermelho,
está morando em meu quintal agora.
Vem pousar como um sol em meu joelho
quando é estridente em meu quintal a aurora.

Clarim de lacre, este pavão vermelho
sobrepuja os pavões que estão lá fora.
É uma festa de púrpura. E o assemelho
a uma chama do lábaro da aurora.

É o próprio doge a se mirar no espelho.
E a cor vermelha chega a ser sonora
neste pavão pomposo e de chavelho.

Pavões lilases possuí outrora.
Depois que amei este pavão vermelho,
os meus outros pavões foram-se embora.


Tornou-me o pôr do sol um nobre entre os rapazes
Queima sândalo e incenso o poente amarelo,
perfumando a vereda, encantando o caminho.
Anda a tristeza ao longe a tocar violoncelo.
A saudade no ocaso é uma rosa de espinho.

Tudo é doce e esplendente e mais triste e mais belo
e tem ares de sonho e cercou-se de arminho.
Encanto! E eis que já sou o dono de um castelo
de coral com portões de pedra cor de vinho.

Entre os tanques dos reis, o meu tanque é profundo.
Entre os ases da flora, os meus lírios lilases.
Meus pavões cor-de-rosa, os únicos do mundo.

E assim sou castelão e a vida fez-se oásis
pelo simples poder, ó pôr do sol fecundo,
pelo simples poder das sugestões que trazes.

(1924)

Sosígenes Costa nasceu a 11 de novembro de 1901, em Belmonte, na Bahia. Participou da Academia dos Rebeldes, um grupo literário modernista liderado pelo escritor Pinheiro Viégas e composto por nomes como Jorge Amado, que tinha o interesse de revitalizar a literatura baiana. Com Obra poética (1959) recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura. Publicou ainda Iararana (1979). Sua Poesia completa foi reunida em 2001. Morreu a 5 de novembro de 1968, no Rio de Janeiro.


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