MONÓLOGO DE
CONGONHAS DO CAMPO
Ante a luz
da tarde,
Um raio me
trespassa
E me deixa
mais vivo.
A eternidade
se fez pedra
E ergue no
silêncio de Congonhas,
sua voz de
pedra.
(Ó luz
crepuscular
Que trazes
para as vestimentas dos profetas
Uma leveza
de rosas sob a lua.)
É preciso
chorar?
É preciso
cantar.
Cantar,
cantar,
Lançar pro
alto as nossas vozes,
Como um
jogral vestido de vermelho
E ao clamor
dessas pedras,
Fundir nosso
canto.
Nossa
perecível canção.
Rios,
Dias e
noites, tempo,
Invernos e
verões,
Atravessai-me.
Eu fico de
pé,
Os braços
abertos,
Face a face
com a eternidade,
Aqui
visível.
POEMA SOBRE
A MELHOR MANEIRA DE AMAR
As aves, silêncios
mortos,
Se não vivem
no seu cântico
E na cantiga
mais plena
De seu voo
aventureiro.
Condição
fora de pássaro
Não trazer
canto nem voo
Tão só pelos
seus encantos.
Mas pelos
novos mistérios
Que dela vos
nascerão
E mais por
encantos outros
Que podem
nutrir-se dela.
Como
havereis de viver
De certo
modo insulano
Que morre
sempre onde nasce?
Se no rosto
se consome
O riso
amado, se morre
Sem liberar
nossos cantos,
Se não
colhemos dos gestos
A beleza
mais secreta;
Se não
sentis que ela abre
O ventre
dessa mulher,
Que rompe
uma fonte clara
De seus
quadris intocados;
Se não
sonhais que latejam
No seio duas
vermelhas
Flores, tépidas
e mansas,
Gotejando o
seu desejo,
Se nos
ombros nus não pousam,
Cometas,
raios de Lua,
Pássaros, réstias,
besouros,
Não vos
acresce esse amor
Nem desse
amor vivereis.
Amai o
flanco ondeante,
Sua face
transmutável,
A voz nua,
os pés descalços,
Pela rosa de
caminhos
Que seu
corpo despetala.
O anúncio
das viagens:
Isto amai em
seus caminhos.
Mas não
ameis à mulher
Tão só pelos
seus encantos,
Que isto
seria conter
Sua beleza
mais plena,
A beleza
transbordada
De sua carne
tangível.
Mulher bela,
corpo amado,
São pontos
iniciais
Para viagens
mais belas.
•
Osman Lins
nasceu a 5 de julho de 1924 em Vitória de Santo Antão. Professor universitário,
especialista na obra de Lima Barreto, se destacou por romances como Avalovara
(1973), peças como Lisbela e o prisioneiro (1961) e contos como os
reunidos em Nove, novena (1966). Sua obra poética é esparsa. Difundida principalmente
em jornais foi mais tarde catalogada por Cristiano Moreira e organizada
por Ana Luiza Andrade em Imprevistos de arribação. Osman Lins morreu no
dia 8 de julho de julho de 1978 em São Paulo.
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