O LAVRADOR
ASSUSTADO
Eu fui para
o campo na folga que tive;
O estranho talvez riu, não cheguei a ver;
A choça pra abrigar-me de chuva;
E o livro em meu bolso foi lido sem mora.
O pássaro abrigou-se,
mas logo foi embora;
O cavalo veio ver, e alegre quedou;
Ficou em silêncio e mexeu a cabeça,
Parecendo ouvir o poema que eu lia.
O lavrador
talvez volte após a lida
Pensando a que tinha vindo aquele ser,
Sentado a um canto, lendo, o dia todo,
A gargalhar ao fim de cada leitura.
Outro pássaro
sobrevoou, e se debruça
Onde o corvo grita feito um camponês;
A cotovia no alto me enfeitiçou,
Então sentei e me uni à melodia.
Eu bem pude
aturar o tosco campônio:
Seu louvor nada vale, sua censura é inútil;
A fama atiçou-me, e lidei todo o dia
Té os campos poderem viver no meu poema.
EU SOU
Eu sou: o
que agora sou ninguém quer saber;
Amigos me abandonaram, fútil haver;
Eu mesmo consumo minhas paixões feéricas ―
Elas nascem e se esfumam em chão estéril.
Abafados espasmos de amor delirante ―:
Mas sou, vivo ― como vapores tremulantes
Em meio a um
nada ruidoso e escarnescente,
Em meio a um vivo mar de sonhos vigilantes,
Onde não há sentido de vida ou alegrias,
Só o cru naufrágio de minhas aporias;
E a mais desejada, que me faz e desfaz,
É-me estranha ― ou pior, mais estranha que as mais.
Aspiro a
lugares por homem não pisados,
Cenário não visto por mulher, nem pranteado ―
Para lá conviver com meu Criador, Deus,
Dormir como na infância, leve, junto aos meus,
Desanuviado, e confortado onde me encontro,
A grama por baixo ― por cima o céu redondo.
John Clare
nasceu a 13 de julho de 1793, em Helpston. Publicou três livros em vida. Clare
morreu no dia 20 de maio de 1864, em Northampton.
O estranho talvez riu, não cheguei a ver;
A choça pra abrigar-me de chuva;
E o livro em meu bolso foi lido sem mora.
O cavalo veio ver, e alegre quedou;
Ficou em silêncio e mexeu a cabeça,
Parecendo ouvir o poema que eu lia.
Pensando a que tinha vindo aquele ser,
Sentado a um canto, lendo, o dia todo,
A gargalhar ao fim de cada leitura.
Onde o corvo grita feito um camponês;
A cotovia no alto me enfeitiçou,
Então sentei e me uni à melodia.
Seu louvor nada vale, sua censura é inútil;
A fama atiçou-me, e lidei todo o dia
Té os campos poderem viver no meu poema.
Amigos me abandonaram, fútil haver;
Eu mesmo consumo minhas paixões feéricas ―
Elas nascem e se esfumam em chão estéril.
Abafados espasmos de amor delirante ―:
Mas sou, vivo ― como vapores tremulantes
Em meio a um vivo mar de sonhos vigilantes,
Onde não há sentido de vida ou alegrias,
Só o cru naufrágio de minhas aporias;
E a mais desejada, que me faz e desfaz,
É-me estranha ― ou pior, mais estranha que as mais.
Cenário não visto por mulher, nem pranteado ―
Para lá conviver com meu Criador, Deus,
Dormir como na infância, leve, junto aos meus,
Desanuviado, e confortado onde me encontro,
A grama por baixo ― por cima o céu redondo.
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* Traduções de Luís Augusto Fisher.
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