A MORTE DA
ROSA
Morreu de
mau cheiro.
Rosa igual,
exata.
Subsistiu à
sua beleza,
Sucumbiu à
sua fragrância.
Não teve
nome: talvez
lhe chamassem
Rosaura,
Ou
Rosa-fina, ou Rosa
do amor, ou
Rosalva;
ou
simplesmente Rosa,
como se chama
a água.
Mais lhe
valeria
ser sempre-viva,
Dália,
pensamento com
lua
como um ramo
de acácia.
Mas ela será
eterna:
foi rosa; e
isso basta;
Deus a gurde
em seu reino
à margem
direita do alvorecer.
1945
SONETO QUASE
INSISTENTE NUMA NOITE DE SERENATAS
Queria uma
mulher de sangue e prata.
Qualquer mulher.
Uma mulher qualquer,
quando nas
noites de primavera
se ouve
distante uma serenata.
Essa música
é alma. E mesmo não fosse
verdade tanta
mentira seria bom
saber que
sua voz sempre retrata
o coração de
uma mulher qualquer.
Quero querer
com música. E quero
que me
queiram com tom verdadeiro
Quase em azul
e quase eternamente.
Será porque
esse ritmo me arrebata,
ou talvez
porque ouvindo serenatas
dói-me o Coração
musicalmente.
1945
CANÇÃO
Chove neste poema
Eduardo Carranza
Chove. A tarde
é uma
folha de
névoa. Chove.
A tarde está
molhada
de tua
própria tristeza.
Às vezes vem
o ar
com sua canção.
Às vezes...
Sinto a alma
pesada
contra tua
voz ausente.
Chove. E
estou pensando
em ti. E
estou sonhando.
Ninguém verá
esta tarde
a minha dor
presa.
Ninguém. Só tua
ausência
que me dói
nas horas.
Amanhã tua
presença regressará na rosa.
Penso – cai a
chuva –
nunca como
as frutas.
Menina como
as frutas,
agradecida como
uma festa
hoje está
entardecendo
teu nome em
meu poema.
Às vezes vem
água
a olhar pela
janela
E tu não estás
Às vezes te
pressinto próxima.
Humildemente
recordo
tua despedida
triste.
Humildemente
e tudo
humilde: os
jasmins
as rosas do
jardim
e meu pranto
em declive.
Oh, coração
ausente:
quão grande
é ser humilde!
31 de dezembro
de 1944
•
Gabriel García Márquez nasceu a 6
de março de 1927 em Aracataca, na Colômbia. Um dos nomes mais importantes da
literatura do século XX, o autor de Cem anos de solidão, como muitos
reconhecidos pela prosa, também se experimentou na poesia. Recebeu por sua obra
o Prêmio Nobel de Literatura em 1982. Morreu no dia 17 de abril de 2014 na
Cidade do México.
* Traduções de Pedro Fernandes de Oliveira Neto.
Muito bom. Sempre Gabriel Garcia Márquez.
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