OS PASSOS REMOTOS
O meu pai
dorme. O seu nobre semblante
é como um
coração apaziguado;
está tão
doce agora...
se há nele
algo de amargo, serei eu.
Há solidão
na casa; e reza-se;
e dos filhos
não houve hoje notícias.
Meu pai
acorda, considera
a fuga para
o Egito e um suspenso adeus.
Está agora
tão perto;
se há nele
algo distante, serei eu.
E minha mãe
passeia além na horta,
saboreando
um sabor já sem sabor.
Está agora
tão suave,
tão
longínqua, tão amorosa e nítida.
Há solidão
no lar sem reboliço,
sem
notícias, sem verdes criancices.
E se há algo
quebrado nesta tarde
que diminui
e crepita
são dois
velhos caminhos brancos, curvos.
Por eles vai a pé meu coração.
•
César Vallejo nasceu em Santiago de Chuco, a 16 de março de 1892. Integrado às vanguardas do século XX, é considerado um dos mais importantes poetas hispano-americanos. O peruano começa sua vida literária com Los heraldos negros (1918) e na poesia publica ainda Trilce (1922) e Poemas humanos (1939). Também escreveu romance, conto, crônica, ensaio e teatro. Morreu em Paris no dia 15 de abril de 1938.
* Tradução de Nicolau Saião
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