segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Dois poemas de Oswald de Andrade



Relicário

No baile da corte

Foi o conde d'Eu quem disse
Pra Dona Benvinda
Que farinha de Suruí
Pinga de Parati
Fumo de Baependi
É comê bebê pitá e caí


Balada do esplanada

Ontem à noite
Eu procurei
Ver se aprendia
Como é que se fazia
Uma balada
Antes de ir
Pro meu hotel.
É que este
Coração
Já se cansou
De viver só
E quer então
Morar contigo
No Esplanada.

Eu queria
Poder
Encher
Este papel
De versos lindos
É tão distinto
Ser menestrel
No futuro
As gerações
Que passariam
Diriam
É o hotel
É o hotel
Do menestrel

Pra me inspirar
Abro a janela
Como um jornal
Vou fazer
A balada
Do Esplanada
E ficar sendo
O menestrel
De meu hotel

Mas não há, poesia
Num hotel
Mesmo sendo
'Splanada
Ou Grand-Hotel

Há poesia
Na dor
Na flor
No beija-flor
No elevador


Oswald de Andrade nasceu a 11 de janeiro de 1890. É um dos nomes mais importantes na cena modernista do sudeste do Brasil; autor dos mais importantes manifestos introdutores do movimento no Brasil, o Manifesto da Poesia Pau-Brasil e o Manifesto Antropófago. Autor de obras em prosa, teatro e poesia. Neste gênero destacam-se, dentre outros, Pau Brasil (1925), Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade (1927) e Cântico dos cânticos para flauta e violão (1942). Morreu na mesma cidade natal, São Paulo, a 22 de outubro de 1954.

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