DATA
Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação
Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo de escravidão
Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rasto
Tempo da ameaça
ELEGIA
Aprende
A não esperar por ti pois não te encontrarás
A não esperar por ti pois não te encontrarás
No instante
de dizer sim ao destino
Incerta paraste emudecida
E os oceanos depois devagar te rodearam
E os oceanos depois devagar te rodearam
A isso
chamaste Orpheu Eurydice -
Incessante intensa lira vibrava ao lado
Do desfilar real dos teus dias
Nunca se distingue bem o vivido do não vivido
O encontro do fracasso -
Quem se lembra do fino escorrer da areia na ampulheta
Quando se ergue o canto
Por isso a memória sequiosa quer vir à tona
Em procura da parte que não deste
No rouco instante da noite mais calada
Ou no secreto jardim à beira-rio
Em Junho.
Incessante intensa lira vibrava ao lado
Do desfilar real dos teus dias
Nunca se distingue bem o vivido do não vivido
O encontro do fracasso -
Quem se lembra do fino escorrer da areia na ampulheta
Quando se ergue o canto
Por isso a memória sequiosa quer vir à tona
Em procura da parte que não deste
No rouco instante da noite mais calada
Ou no secreto jardim à beira-rio
Em Junho.
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Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto
em 6 de novembro de 1919 e morreu em 2 de julho de 2004, em Lisboa. Em 1999 recebeu
o mais importante prêmio das literaturas de língua portuguesa, o Camões e, no
ano da sua morte o Reina Sofía. Autora de uma vasta obra poética, todos os
livros seus foram reunidos na antologia Obra
poética.
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