De chumbo eram somente dez soldados
a José Maurício Gomes de Almeida
De chumbo eram somente dez soldados,
plantados entre a Pérsia e o sono fundo,
e com certeza o espaço dessa mesa
era maior que o diâmetro do mundo.
Aconchego de montanhas matutinas
com degraus desenhados pelo vento;
mas na lisa planície da alegria
corre o rio feroz do esquecimento.
Meninos e manhãs, densas lembranças
que o tempo contamina até o osso,
fazendo da memória um balde cego
vazando no negrume de um poço.
Pouco a pouco vão sendo derrubados
as manhãs, os meninos e os soldados.
Palavra,
nave da navalha,
invente em mim
o avesso do neutro.
Preparo para o dia
a fala, curva do finito
num silêncio de âncora.
Atalho onde me calo
e colho, como a um galo,
o intervalo do azul.
plantados entre a Pérsia e o sono fundo,
e com certeza o espaço dessa mesa
era maior que o diâmetro do mundo.
Aconchego de montanhas matutinas
com degraus desenhados pelo vento;
mas na lisa planície da alegria
corre o rio feroz do esquecimento.
Meninos e manhãs, densas lembranças
que o tempo contamina até o osso,
fazendo da memória um balde cego
vazando no negrume de um poço.
Pouco a pouco vão sendo derrubados
as manhãs, os meninos e os soldados.
Palavra
Palavra,
nave da navalha,
invente em mim
o avesso do neutro.
Preparo para o dia
a fala, curva do finito
num silêncio de âncora.
Atalho onde me calo
e colho, como a um galo,
o intervalo do azul.
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Antonio Carlos Secchin nasceu em 10 de junho de 1952 no Rio de Janeiro. Doutor
em Letras; professor titular de Literatura Brasileira da Universidade Federal
do Rio de Janeiro; poeta, ensaísta e crítico literário. Membro da Academia
Brasileira de Letras (2004) e autor de extensa obra que inclui títulos como Ária de estação (1973) e 50 poemas escolhidos pelo autor (2006).
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