quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Dois poemas de Antonio Carlos Secchin



De chumbo eram somente dez soldados

a José Maurício Gomes de Almeida


De chumbo eram somente dez soldados,
plantados entre a Pérsia e o sono fundo,
e com certeza o espaço dessa mesa
era maior que o diâmetro do mundo.

Aconchego de montanhas matutinas
com degraus desenhados pelo vento;
mas na lisa planície da alegria
corre o rio feroz do esquecimento.

Meninos e manhãs, densas lembranças
que o tempo contamina até o osso,
fazendo da memória um balde cego

vazando no negrume de um poço.
Pouco a pouco vão sendo derrubados
as manhãs, os meninos e os soldados.



Palavra

Palavra,
nave da navalha,
invente em mim
o avesso do neutro.
Preparo para o dia
a fala, curva do finito
num silêncio de âncora.
Atalho onde me calo
e colho, como a um galo,
o intervalo do azul. 


Antonio Carlos Secchin nasceu em 10 de junho de 1952 no Rio de Janeiro. Doutor em Letras; professor titular de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Rio de Janeiro; poeta, ensaísta e crítico literário. Membro da Academia Brasileira de Letras (2004) e autor de extensa obra que inclui títulos como Ária de estação (1973) e 50 poemas escolhidos pelo autor (2006). 

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