A sombra sou
eu
A minha sombra
sou eu,
ela não me
segue,
eu estou na
minha sombra
e não vou em
mim.
Sombra de
mim que recebo a luz,
sombra
atrelada ao que eu nasci,
distância
imutável de minha sombra a mim,
toco-me e
não me atinjo,
só sei do
que seria
se de minha
sombra chegasse a mim.
Passa-se
tudo em seguir-me
e finjo que
sou eu que sigo,
finjo que
sou eu que vou
e não que me
persigo.
Faço por
confundir a minha sombra comigo:
estou sempre
às portas da vida,
sempre lá,
sempre às portas de mim!
*
Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu fi-lo perfeitamente,
Para diante de tudo foi bom
bom de verdade
bem feito de sonho
podia segui-lo como realidade
Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu sei-o de cor.
Até reparo que tenho só esperança
nada mais do que esperança
pura esperança
esperança verdadeira
que engana
e promete
e só promete.
Esperança:
pobre mãe louca
que quer pôr o filho morto de pé?
Esperança
único que eu tenho
não me deixes sem nada
promete
engana
engano que seja
engana
não me deixes sozinho
esperança.
•
Almada
Negreiros nasceu em S. Tomé e Príncipe no dia 7 de abril de 1893. Escritor e
artista plástico, ajudou a fundar a revista Orpheu,
veículo de introdução do modernismo em Portugal. Como escritor é autor de vasta
obra inovadora que inclui prosa, poesia e teatro. Morreu em 15 de julho de 1970
em Lisboa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário