MALAGUENHA
A morte
entra e sai
da taberna.
Passam cavalos negros
e gente sinistra
pelos fundos caminhos
da guitarra.
E há um cheiro de sal
e de sangue de fêmea
nos nardos febris
da beira-mar.
A morte
entra e sai,
e sai e entra
a morte
da taberna.
CANTOS NOVOS
Diz a tarde: “Tenho sede de sombra!”
Diz a lua: “Eu, sede de luzeiros.”
A fonte cristalina pede lábios
e suspira o vento.
Diz a lua: “Eu, sede de luzeiros.”
A fonte cristalina pede lábios
e suspira o vento.
Eu tenho sede de aromas e de sorrisos,
sede de cantares novos
sem luas e sem lírios,
e sem amores mortos.
sede de cantares novos
sem luas e sem lírios,
e sem amores mortos.
Um cantar de manhã que estremeça
os remansos quietos
do porvir. E encha de esperança
suas ondas e seus lodaçais.
os remansos quietos
do porvir. E encha de esperança
suas ondas e seus lodaçais.
Um cantar luminoso e repousado
cheio de pensamento,
virginal de tristezas e de angústias
e virginal de sonhos.
cheio de pensamento,
virginal de tristezas e de angústias
e virginal de sonhos.
Cantar sem carne lírica que encha
de risos o silêncio
(um bando de pombas cegas
lançadas ao mistério).
de risos o silêncio
(um bando de pombas cegas
lançadas ao mistério).
Cantar que vá à alma das coisas
e à alma dos ventos
e que descanse por fim na alegria
do coração eterno.
e à alma dos ventos
e que descanse por fim na alegria
do coração eterno.
CHAGAS DE AMOR
Esta luz, este fogo que devora.
Esta paisagem gris que me rodeia.
Esta dor por uma só ideia
Esta angústia de céu, mundo e hora.
Esta paisagem gris que me rodeia.
Esta dor por uma só ideia
Esta angústia de céu, mundo e hora.
Este pranto de sangue que decora
lira já sem pulso, lúbrica teia.
Este peso do mar que me golpeia
Esta lacraia que em meu peito mora.
lira já sem pulso, lúbrica teia.
Este peso do mar que me golpeia
Esta lacraia que em meu peito mora.
São grinaldas de amor, cama de ferido,
onde sem sono, sonho tua presença
entre as ruínas de meu peito oprimido.
onde sem sono, sonho tua presença
entre as ruínas de meu peito oprimido.
E ainda que busque o cume da prudência,
me dá teu coração vale estendido
com cicuta e paixão de amarga ciência.
me dá teu coração vale estendido
com cicuta e paixão de amarga ciência.
•
Federico Garcia Lorca nasceu na região de Granada, na Espanha, em 05 de
junho de 1898. Ingressou na faculdade de Direito de Granada em 1914, e cinco anos depois
transferiu-se para Madrid, onde fez amizade com artistas como Luis
Buñuel e Salvador Dalí e publicou seus primeiros poemas. Grande parte
dos seus primeiros trabalhos baseia-se em temas relativos à Andaluzia (Impressões
e paisagens, 1918), à música e ao folclore regionais (Poemas
do canto fundo, 1921-1922) e aos ciganos (Romancero Gitano, 1928). Concluído o
curso, foi para os Estados Unidos e para Cuba, período de seus
poemas surrealistas, manifestando seu desprezo pelo modus vivendi norte-americano.
Expressou seu horror com a brutalidade da civilização mecanizada nas
chocantes imagens do Poeta em Nova York, publicado em 1940. Voltando à
Espanha, criou um grupo de teatro chamado La Barraca. Foi pintor, compositor precoce e pianista. Sua música se
reflete no ritmo e sonoridade de sua obra poética. Como
dramaturgo, Lorca fez incursões no drama histórico e na farsa antes
de obter sucesso com a tragédia. As três tragédias rurais passadas na
Andaluzia, Bodas de Sangue (1933), Yerma (1934) e A casa de Bernarda Alba (1936) asseguraram sua posição como grande
dramaturgo. Não ocultava suas ideias socialistas e, com fortes tendências homossexuais. Foi assassinado em 1936.
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