Aparição
Um dia, meu
amor, (e talvez cedo,
Que sinto
estalar-me o coração!)
Recordarás
com dor e compaixão
As ternas
juras que te fiz a medo…
Então, da
casta alcova no segredo,
Da lamparina
no trêmulo clarão,
Ante ti
surgirei, espectro vão,
Larva fugida
ao sepulcral degredo…
E tu, meu
anjo, ao ver-me, entre gemidos
E aflitos
ais, estenderás os braços
Tentando
segurar-te aos meus vestidos…
— “Ouve!
espera!” — Mas eu, sem te escutar,
Fugirei,
como um sonho, aos teus abraços
E como fumo
sumir-me-ei no ar!
A um poeta
Tu, que
dormes, espírito sereno,
Posto à
sombra dos cedros seculares,
Como um
levita à sombra dos altares,
Longe da
luta e do fragor terreno,
Acorda! é
tempo! O sol, já alto e pleno,
Afuguentou
as larvas tumulares...
Para surgir
do seio desses mares,
Um mundo
novo espera só um aceno...
Escuta! é a
grande voz das multidões!
São teus
irmãos, que se erguem! são canções...
Mas de
guerra... e são vozes de rebate!
Ergue-te
pois, soldado do Futuro,
E dos raios
de luz do sonho puro,
Sonhador,
faze espada de combate!
•
Antero de
Quental nasceu a 18 de abril de 1842 em Ponta Delgada. O poeta teve um papel
importante em vários movimentos literários portugueses de seu tempo: fundou em
Coimbra a Sociedade do Raio; esteve envolvido na Questão Coimbrã; formou o
grupo Cenáculo, de que fizeram parte, entre outros, nomes como Eça de Queirós e
Ramalho Ortigão. Publicou Odes modernas (1861) e Sonetos completos (1886),
obras continuamente reeditadas. Foi colaborador em várias publicações como A
Esperança, Renascença, O Pantheon, Branco e negro e Contemporânea.
O poeta suicidou-se a 11 de setembro de 1891.
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