Nasce a perfeição
Quero que alguém me fale
sobre
a mensagem das águas nos nossos corpos,
sobre o ar de ontem
na cabine telefônica,
sobre os vôos, que apesar de todos
os anjos invisíveis, são cancelados
por causa da má visibilidade.
Sobre o ventilador que chora os ventos tropicais,
sobre o incenso que perfuma mais intensamente
quando se espaira — quero que alguém me fale sobre isso.
a mensagem das águas nos nossos corpos,
sobre o ar de ontem
na cabine telefônica,
sobre os vôos, que apesar de todos
os anjos invisíveis, são cancelados
por causa da má visibilidade.
Sobre o ventilador que chora os ventos tropicais,
sobre o incenso que perfuma mais intensamente
quando se espaira — quero que alguém me fale sobre isso.
Acredito que, quando a
perfeição nasce,
todas as formas e verdades
se partem como casca de ovo.
todas as formas e verdades
se partem como casca de ovo.
Somente o suspiro das
suaves despedidas
pode rasgar a teia de aranha
e a perfeição dos países imaginados
poderá adiar a migração secreta
das almas.
pode rasgar a teia de aranha
e a perfeição dos países imaginados
poderá adiar a migração secreta
das almas.
E o que faço eu com o meu
corpo imperfeito:
vou e volto, vou e volto,
como uma sandália de plástico sobre as ondas
na orla.
vou e volto, vou e volto,
como uma sandália de plástico sobre as ondas
na orla.
Célere é o século
Célere é o século. Se eu
fosse um vento,
eu descascaria as códeas das árvores
e as fachadas dos edifícios nos subúrbios.
eu descascaria as códeas das árvores
e as fachadas dos edifícios nos subúrbios.
Se eu fosse de ouro,
esconderiam-me nos porões,
na terra rala e entre brinquedos quebrados.
Os pais me esqueceriam, mas os filhos
lembrariam-se de mim eternamente.
na terra rala e entre brinquedos quebrados.
Os pais me esqueceriam, mas os filhos
lembrariam-se de mim eternamente.
Se eu fosse um cão, eu
não teria medo
de refugiados, se eu fosse a lua, eu não
recearia a pena de morte.
de refugiados, se eu fosse a lua, eu não
recearia a pena de morte.
Se eu fosse um relógio de
parede,
eu ocultaria as fissuras na parede.
eu ocultaria as fissuras na parede.
Célere é o século.
Sobrevivemos aos terremotos mais leves
ao olharmos para o céu e não para a terra.
Abrimos a janela para entrar o ar
dos lugares em que nunca estivemos.
As guerras não existem só porque diariamente alguém
machuca nosso coração. Célere é o século.
Mais alígero do que a palavra.
Se eu estivesse morto, todos acreditariam em mim
quando me calo.
ao olharmos para o céu e não para a terra.
Abrimos a janela para entrar o ar
dos lugares em que nunca estivemos.
As guerras não existem só porque diariamente alguém
machuca nosso coração. Célere é o século.
Mais alígero do que a palavra.
Se eu estivesse morto, todos acreditariam em mim
quando me calo.
Não sei
Distantes estão as casas
com as quais sonho,
distante a voz de minha mãe, que
me chama à ceia, mas corro para os campos de centeio.
distante a voz de minha mãe, que
me chama à ceia, mas corro para os campos de centeio.
Distante estamos como uma
bola que erra o gol
e segue para o céu, estamos vivos
como um termômetro, que somente é exato
no momento em que olhamos para ele.
e segue para o céu, estamos vivos
como um termômetro, que somente é exato
no momento em que olhamos para ele.
A longínqua realidade me
interroga diariamente,
como um viajante desconhecido, que me desperta no meio
do caminho com a pergunta: é este o ônibus certo?
E respondo sim, mas penso: não sei.
Não sei onde estão as cidades de teus antepassados,
as conhecidas doenças e medicamentos
que não possuem a substância da paciência.
como um viajante desconhecido, que me desperta no meio
do caminho com a pergunta: é este o ônibus certo?
E respondo sim, mas penso: não sei.
Não sei onde estão as cidades de teus antepassados,
as conhecidas doenças e medicamentos
que não possuem a substância da paciência.
Sonho com uma casa na
colina de nossa saudade
para contemplar como as ondas do mar desenham
o cardiograma das nossas derrotas e do nosso amor,
como as pessoas acreditam, para não afundar
e caminham para não caírem no esquecimento.
para contemplar como as ondas do mar desenham
o cardiograma das nossas derrotas e do nosso amor,
como as pessoas acreditam, para não afundar
e caminham para não caírem no esquecimento.
Distantes estão as
cabanas onde nos escondemos da chuva
e da dor do veado que morre diante dos olhos do caçador,
mais solitário do que faminto.
e da dor do veado que morre diante dos olhos do caçador,
mais solitário do que faminto.
O longínquo instante me
interroga diariamente,
É esta a janela? É esta a vida?, e eu respondo
sim e na realidade não sei, eu não sei quando
os pássaros começarão a falar sem dizer céu.
É esta a janela? É esta a vida?, e eu respondo
sim e na realidade não sei, eu não sei quando
os pássaros começarão a falar sem dizer céu.
* Tradução de Viviane de Santana Paulo. Publicado inicialmente no jornal Rascunho.
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