quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Um poema de Antonin Artaud

Antonin Artaud


Tutuguri - o rito o sol negro

E lá embaixo, no pé da encosta amarga,
cruelmente desesperada do coração,
abre-se o círculo das seis cruzes
bem lá embaixo
como se incrustada na terra amarga
desincrustada do imundo abraço da mãe
que baba.

A terra do carvão negro
é o único lugar úmido
dessa fenda de rocha.

O Rito é o novo sol passar através de sete pontos antes de explodir
no orifício da terra.

Há seis homens,
um para cada sol
e um sétimo homem
que é o sol
cru
vestido de negro e carne viva.

Mas este sétimo homem
é um cavalo,
um cavalo com um homem conduzindo-o.

Mas é o cavalo
que é o sol
e não o homem.

No dilaceramento de um tambor e de uma trombeta longa
estranha,
os seis homens
que estavam deitados
tombados no rés do chão,
brotaram um a um como girassóis,
não sóis
porém solos que giram,
lótus d'água,
e a cada um que brota
corresponde, cada vez mais sombria
e refreada
a batida do tambor

até que de repente chega a galope, a toda velocidade
o último sol
o primeiro homem,
o cavalo negro com um
homem nu,
absolutamente nu
e virgem
em cima.

Depois de saltar, eles avançam em círculos crescentes
e o cavalo em carne viva empina-se
e corcoveia sem parar
na crista da rocha
até os seis homens
terem cercado
completamente
as seis cruzes.

Ora, o tom maior do Rito é precisamente

A ABOLIÇÃO
DA CRUZ

Quando terminam de girar
arrancam
as cruzes do chão
e o homem nu
a cavalo
ergue
uma enorme ferradura
banhada no sangue de uma punhalada.


Poema traduzido por Claudio Willer. Publicado antes no blog Cantar a pele da lontra.


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