As romãs
Duras romãs
entreabertas
Pelo excesso dos grãos de ouro,
Eu vejo reis, todo um tesouro
Nascer de suas descobertas!
Pelo excesso dos grãos de ouro,
Eu vejo reis, todo um tesouro
Nascer de suas descobertas!
Se os sóis de onde
ressurgis,
Ó romãs de entrevista tez,
Vos fazem, prenhes de altivez,
Romper os claustros de rubis,
Ó romãs de entrevista tez,
Vos fazem, prenhes de altivez,
Romper os claustros de rubis,
E se o ouro sece cede
enfim
Ante a demanda ainda mais dura
E explode em gemas de carmim,
Ante a demanda ainda mais dura
E explode em gemas de carmim,
Essa luminosa ruptura
Faz sonhar uma alma que há em mim
De sua secreta arquitetura.
Faz sonhar uma alma que há em mim
De sua secreta arquitetura.
Sob o sol
Sob o sol em meu leito
após a água -
Sob o sol e sob o reflexo enorme do sol sobre o mar,
Sob a janela,
Sob os reflexos e os reflexos dos reflexos
Do sol e dos sóis sobre o mar
Nos vidros,
Após o banho, o café, as ideias,
Nu sob o sol em meu leito todo iluminado
Nu - só - louco -
Eu!
Sob o sol e sob o reflexo enorme do sol sobre o mar,
Sob a janela,
Sob os reflexos e os reflexos dos reflexos
Do sol e dos sóis sobre o mar
Nos vidros,
Após o banho, o café, as ideias,
Nu sob o sol em meu leito todo iluminado
Nu - só - louco -
Eu!
A adormecida
Que segredo incandesces
no peito, minha amiga,
Alma por doce máscara aspirando a flor?
De que alimentos vãos teu cândido calor
Gera essa irradiação: mulher adormecida?
Alma por doce máscara aspirando a flor?
De que alimentos vãos teu cândido calor
Gera essa irradiação: mulher adormecida?
Sopro, sonhos, silêncio,
invencível quebranto,
Tu triunfas, ó paz mais potente que um pranto,
Quando de um pleno sono a onda grave e estendida
Conspira sobre o seio de tal inimiga
Tu triunfas, ó paz mais potente que um pranto,
Quando de um pleno sono a onda grave e estendida
Conspira sobre o seio de tal inimiga
Dorme, dourada soma:
sombras e abandono.
De tais dons cumulou-se esse temível sono,
Corça languidamente longa além do laço,
De tais dons cumulou-se esse temível sono,
Corça languidamente longa além do laço,
Que embora a alma
ausente, em luta nos desertos,
Tua forma ao ventre puro, que veste um fluido braço,
Vela, Tua forma vela, e meus olhos: abertos.
Tua forma ao ventre puro, que veste um fluido braço,
Vela, Tua forma vela, e meus olhos: abertos.
•
Paul Valéry
nasceu a 30 de outubro de 1871, em Sète. Um dos mais importantes nomes do
simbolismo francês, sendo um frequentador do círculo composto por, entre
outros, Stéphane Mallarmé. Morreu em Paris no dia 20 de julho de 1945.
* Traduções de Augusto de Campos
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