Paul Verlaine |
O AMOR POR TERRA
O vento derrubou ontem à noite o Amor
Que, no recanto mais secreto do jardim,
Sorria retesando o arco maligno, e assim
Tanta coisa nos fez todo um dia supor!
Da manhã gira, esparso, o mármore alvo. E à vista
É triste o pedestal, onde o nome do artista
Já mal se pode ler à sombra da ramagem.
Sozinho! e pensamentos graves vêm e vão
No meu sonho em que a mais profunda comoção
Imagina um porvir solitário e fatal
Ante o quadro dolente, embora olhando à toa
A borboleta de oiro e púrpura que voa
Sobre os destroços de que a aléa está juncada.
Estes lamentos
Dos violões lentos
Do outono
Enchem minha alma
De uma onda calma
De sono.
Pálido quando
Soa a hora,
Recordo todos
Os dias doudos
De outrora.
No ar mau que voa,
Que importa?
Vou pela vida,
Folha caída
E morta.
Sonho às vezes o sonho estranho e persistente
De não sei que mulher que eu quero e que me quer,
E que nunca é, de fato, uma única mulher
E nem outra, de fato, e me compreende e sente.
Para ela, não é mais um problema qualquer,
Só para ela, o meu suor de angústia, se quiser,
Chorando, ela transforma em frescura envolvente.
Seu nome? É como o nome ideal, doce e sonoro,
Dos amados que a vida exilou para além.
E sua voz longínqua, e calma, e grave, tem
Certa inflexão de emudecida voz amiga.
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Paul Verlaine nasceu a 30 de março
de 1844 em Metz. Sua estreia na poesia data de 1866 com a publicação de Poemas
saturninos. Autor de vasta obra poética, nascida no sobejo do
parnasianismo, foi no simbolismo onde o poeta se fez um dos nomes mais
importantes da literatura do século XIX. Morreu a 8 de março de 1896 em Paris.
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