segunda-feira, 30 de junho de 2014

Três poemas de José Emilio Pacheco


Indesejável

O guarda não me deixa entrar.
Já passei do limite de idade.
Provenho de um país que já não existe.
Meus documentos não estão em ordem.
Falta um carimbo.
Necessito outra assinatura.
Não falo o idioma.
Não tenho conta no banco.
Fui reprovado no exame de admissão.
Cancelaram minha vaga na grande fábrica.
Me desempregaram hoje e para sempre.
Careço inteiramente de influências.
Estou neste mundo há muito tempo.
E nossos amor dizem que já é hora
de calar-me e meter-me no lixo.


Na República dos Lobos

Na República dos Lobos
nos ensinaram a uivar.

Mas ninguém sabe
se nosso uivo é ameaça, queixa,
um tipo de música incompreensível
para quem não seja lobo;
um desafio, uma oração, um discurso

ou um monólogo solipsista.


Regresso a Sísifo

Rodou a pedra e outra vez como antes
a empurrarei, a empurrarei ladeira acima
para vê-la rodar de novo.
Começa a batalha que aconteceu mil vezes
contra a pedra e Sísifo e mim mesmo.

Pedra que nunca deterás no alto:
dou-te as graças por rodar ladeira abaixo.
Sem este drama inútil, a vida seria inútil.




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