Como se te
perdesse, assim te quero.
Como se não
te visse (favas douradas
Sob um
amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível,
e te respiro inteiro
Um arco-íris
de ar em águas
profundas.
Como se tudo
o mais me permitisses,
A mim me
fotografo nuns portões de ferro
Ocres,
altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto
de toda despedida.
Como se te
perdesse nos trens, nas estações
Ou
contornando um círculo de águas
Removente
ave, assim te somo a mim:
De redes e
de anseios inundada.
*
Que este
amor não me cegue nem me siga.
E de mim
mesma nunca se aperceba.
Que me
exclua do estar sendo perseguida
E do
tormento
De só por
ele me saber estar sendo.
Que o olhar
não se perca nas tulipas
Pois formas
tão perfeitas de beleza
Vêm do
fulgor das trevas.
E o meu
Senhor habita o rutilante escuro
De um
suposto de heras em alto muro.
Que este
amor só me faça descontente
E farta de
fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça
pequena. E diminuta e tenra
Como só soem
ser aranhas e formigas.
Que este
amor só me veja de partida.
*
Demora-te
sobre minha hora.
Antes de me
tomar, demora.
Que tu me
percorras cuidadosa, etérea
Que eu te
conheça lícita, terrena
Duas fortes
mulheres
Na sua dura
hora.
Que me tomes
sem pena
Mas
voluptuosa, eterna
Como as
fêmeas da Terra.
E a ti, te
conhecendo
Que eu me
faça carne
E posse
Como fazem
os homens.
•
Hilda Hilst nasceu em 21 de abril de 1930. Estudou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da Universidade de São Paulo. Publicou seu primeiro livro em 1950, Presságio e, logo no ano seguinte, Balada de Alzira. Na década posterior trocou a badalada vida urbana pela tranquilidade na fazenda da mãe, São José, próxima a campinas, onde construiu a casa do Sol. Escreveu teatro e ficção a partir de 1970. Dentre eles se destacam O caderno rosa de Lori Lamby, Cartas de um sedutor e Rútilo nada. Morreu em 2004.
Hilda me comove. Me doloriza, me vivifica. A ela agradeço!
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