segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Cinco poemas de Paul Celan



Falar com os becos sem saída
sobre o de defronte
sobre sua
expatriada
significação – :
com dentes de escrever,
mastigar esse pão.

*

Um estrondo: a
própria verdade
surgiu entre
os homens
em pleno
turbilhão de metáforas

*

Sóis filiformes
sobre o ermo grisnegro.
Um pensamento
alto como uma árvore
agarra o somluz: ainda há
cantos a se cantarem para além
dos homens.

*

O mundo, mundo,
justificado em todos os peidos,
eu, eu,
contigo, tigo, to-
sado.


Nos rios ao norte do futuro
lanço a rede que tu,
hesitante, lastreias 
com sombras
escritas por pedras.

Paul Celan nasceu a 23 de novembro de 1920 em Cernăuţi. Profundamente apaixonado pela poesia, foi um prolífico tradutor deste gênero: mais de quatro dezenas de importantes nomes da literatura, como Guillaume Apollinaire, Antonin Artaud, Charles Baudelaire, Aleksandr Blök, Emil Cioran, Emily Dickinson, Paul Éluard, Mallarmé, Marianne Moore, Paul Valéry, Fernando Pessoa. Um dos seus trabalhos de destaque é Arte poética: o meridiano e outros textos. Sobrevivente do Holocausto, Celan não conseguiu se curar das sequelas agravadas por esse pesado tempo e suicidou-se em Paris a 20 de abril de 1970. 


* Traduzidos por Celso Fraga da Fonseca e publicados inicialmente em Cadernos de Literatura em Tradução, n.4

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