1
Deu
meia-noite
és livre
os guardas
olham as montras
vêem o preço
dos coturnos
e dos lenços
não mais se
lembrarão de ti
só se o luar
nascer
ou a manhã
ou se
gritares
12
Há sempre um
rapaz triste
em frente a
um barco
a água é sempre
azul
e sempre
fresca
Em que país
encontraria
um emprego e
esquecimento
em que país
encontraria
amor e
compreensão
em que país
sentiriam
a sua vida e
a sua morte
Não
respondem as gaivotas
porque voam
Há sempre um
rapaz triste
com lágrimas
nos olhos
em frente a
um barco
16
Chega a ter
gosto
a chuva
vista dos
cafés
caindo sobre
as estátuas
e a
nostalgia
chega a ser
morna
com fumo e
álcool
na garganta
Até os
homens passarem
junto aos
vidros
reais
molhados
sem emoções
instruídas
pensando em
remédios
e prestações
grisalhos
sem serem
velhos
e falando
sós
sem serem
loucos
•
António Reis nasceu em 27 de agosto de 1927 em Valadares
e morreu em Lisboa em 10 de setembro de 1991. Foi cineasta e poeta. Em poesia
publicou Poemas quotidianos (1957) e Novos poemas quotidianos (1959).
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