segunda-feira, 15 de março de 2010

Dois poemas eróticos de Bocage




ADIVINHAÇÃO
É pau, é rei dos paus, não marmeleiro,
Bem que duas gamboas lhe lobrigo;
Dá leite, sem ser árvore de figo,
Da glande o fruto tem, sem se sobreiro:

Verga, e não quebra, como zambujeiro;
Oco, qual sabugueiro tem o umbigo;
Branco às vezes, qual vime, está consigo;
Outras vezes mais rijo que um pinheiro:

À roda da raiz produz carqueja;
Todo o resto do tronco é calvo e nu;
Nem cedro, nem pau-santo mais negreja!

Para carvalho ser falta-lhe um V;
Adivinhem agora que pau seja,
E quem adivinhar meta-o no cu.


Ó FORMOSURA!
Piolhos cria o cabelo mais dourado;
Branca remela o olho mais vistoso;
Pelo nariz do rosto mais formoso
O monco se divisa pendurado:

Pela boca do rosto mais corado
Hálito sai, às vezes bem asqueroso;
A mais nevada mão sempre é forçoso;
Que de sua dona o cu tenha tocado:

Ao pé dele a melhor natura mora,
Que deitando no mês pode gordura,
Fétido mijo lança a qualquer hora:

Caga o cu mais alvo merda pura;
Pois se é isto o que tanto se namora,
Em ti mijo, em ti cago, ó formosura!


Manuel Maria du Bocage nasceu em Setúbal em 15 de setembro de 1765 e morreu em Lisboa, em 21 de dezembro de 1805. É reconhecidamente um dos nomes mais significativos do Arcadismo português, mas sua obra o insere entre uma zona de transição entre este movimento e o romantismo. Escreveu poemas que foram reunidos em títulos como ElegiaImprovisos de Bocage e Mágoas Amorosas de Elmano. Atualmente pode-se encontrá-las em Opera OmniaPoesias (lírica, sátira e poesia erótica) e Poesias de Bocage.

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