terça-feira, 29 de junho de 2010

Um poema de Hugo von Hofmannsthal



BALADA DA VIDA EXTERIOR
 
E crescem crianças de olhos profundos,
Que nada sabem e crescem e morrem,
E toda a gente segue os seus caminhos.
 
E os frutos verdes se tornam maduros,
Caindo à noite como as aves mortas,
E jazem alguns dias e apodrecem.
 
E o vento vai soprando, e nós gastando
As palavras que ouvimos e dizemos,
E no corpo há prazeres e há cansaços.
 
Há estradas pela relva e há lugares
Com árvores e lagos e archotes,
E há outros feridos de mortal secura...
 
Talhados para quê? E tão diferentes
E tantos que nem podem ser contados?
Que importa rir, chorar, perder a cor?
 
De que nos servem tantos passatempos,
Na grandeza de eternos solitários,
Vagueando sem jamais buscar um alvo?
 
Isto que importa aos que correram mundo?
Mas muito diz quem pronuncia — “Noite”,
Palavra donde nasce uma tristeza,
 
Escorrendo como o mel dos favos ocos.


Hugo von Hofmannsthal nasceu no dia 1.º de fevereiro de 1874, em Viena. Destacado dramaturgo, foi um dos principais nomes do movimento Fin de Siècle em língua alemã. Outro lance de prestígio na sua biografia é sua vivência na música; com Richard Strauss compôs uma série de libretos. Também escreveu poesia. Morreu no dia 15 de julho de 1929, em Viena.
 
* Tradução de Olívio Caeiro.

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